Outubro

Outubro chegou e com ele, meu aniversário que se aproxima. Apenas um lembrete na porta, um despertador para avisar que o tempo está passando, e eu morrendo. Eu me levanto, esfrego os olho em busca de uma nova luz que me guie paz. De alguma forma, me vem a lista enorme de coisas a fazer do ano velho pra cá, e recordo que nem metade destas eu realizei. Mas os planos estão lá, no papel. Não tenho visto mais quem eu queria, nem terminei as aulas de violão, não iniciei a dança, não entrei na academia, nem muito menos aprendi francês. Li menos livros do que eu gostaria (até aqui), não me distanciei do que me fez mal, fui de encontro aos meus valores, dei valores desmerecidos, fui besta, sofri sem necessidade. Mas fiz mais planos ainda, sorri demais, me arrependi e consegui rir das desgraças, perdas. Comecei a trabalhar, encarei alguns medos, fiquei mais mulher. Tudo meio que involuntário, como se a vida resolvesse me dizer vários sins de uma vez, apesar dos pesares. Acho que fiquei mais independente, apesar de sempre tropeçar sozinha no ônibus. Meus dias me vestiram e me encheram de vida. Saí menos, entendi mais as pessoas e seus problemas. Ouvi bem mais os outros, e com a minha boca usei cadeados. Até aqui, vida amorosa pouca agitada, mas dias tão bonitos. Felizes, claros e cheios de esperanças que me embalam. Pra algo que me espera, pra um abrir de portas que me mantém intacta e com um sorriso nos lábios. Fortaleci laços também, descobri irmãos, quebrei a cara, mas perdoei pra caramba. Engoli muito seco quando o que eu mais queria era mandar toda a sociedade ir se fuder. Eu me descobri, e até agora não consegui me definir. Nem quero. Gosto desse enigma de ser, de viver, de conviver. Pra mim, não há algo mais fantástico e desafiador... Reviro fotos e elas riem da minha cara arcaica, que desmonta castelos invisíveis. Não tenho culpa por ser memorialista, saudosista, romântica mesmo parecendo uma pedra. Vivo errando também, odeio a ânsia de pessoas que só querem ter razão e que se escondem atrás de suas fraquezas. Eu gosto de quem se despe e de quem se joga mesmo. Odeio os politicamente corretos, apesar de ter que aturá-los - não quero parecer ser. Tenho odiado quem acredita em milagres sem mover uma palha. Os que usam viseiras e vivem de mãos atadas. Pois mais um mês do ano está indo, o outro chegará logo mais. Se você não muda, nada mais mudará. Data nova, inédita, mas dias que simplesmente continuam. Tento me juntar a eles e corro pra não perder o trem. Arrisco mais e desisto de ter que arranjar um motivo novo para reclamar da vida velha. Acho isso tão sinônimo de comodismo...
Incômodo.
Talvez porque o mais difícil seja se renovar, sendo exatamente o mesmo.
Go ahead...
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