quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Astro-não-mia

Não sei se pelo meu pai ou pela minha infância recheada de historinhas do firmamento, sempre fui observadora assídua do que via acima de mim: o céu. Lá era onde meus sonhos pousavam e me olhavam brilhando por intermédio das estrelinhas. Eu também acreditei que fosse criar verrugas se apontasse... que bobagem! Toda minha infantilidade está conectada ao espaço sideral e no que nele eu imaginava ser. Criava tanta coisa, que me perdia nas nuvens de imaginação, enquanto meu pai insistia em me explicar o escorpião formado pelas estrelinhas e o cinturão de Órion. Sem fala nas três marias, do vermelho de Mercúrio e na pequenez de Plutão.


Tive o imenso regozijo de observar de um telescópio os anéis de Saturno e as crateras da nossa amiga Lua. Não para o que escolhi pra seguir profissionalmente, mas dentro de mim sei que tem um pouco de astronomia. Minha relação com os planetas que eu teimava em enxergar sempre foi de real cumplicidade. Hoje em dia, poucas vezes me transporto pra o imenso universo estelar. Esses dias mesmo parei, sentei e fiquei abismada assistindo ao espetáculo da presenteada noite - mas que meus dias deram pra embaçar - imaginando que cada coisinha que brilhava era como uma pessoa, mortais com cara de infinitas. E pra quem não sabe, as estrelas e o sol (como a maior delas) também morrem. Desejei ainda querer ir pra lá quando partisse de vez, pois assim poderia observar a todos aqui embaixo e esperar àqueles que amo, cintilando para dizer da tamanha saudade. 


Talvez genético, mas meu irmão também gosta do céu. Ele quer voar, ser piloto, mas poucos acreditam que um dia será. Infelizmente há pessoas que não acreditam nas estrelas; preferem os terrestres que se afundam na terra. E eu ainda opto por caminhar olhando pra cima. Falando assim, me recordo o quão é revitalizante viajar de avião, pois sentindo-me mais perto daquilo que o homem não põe as mãos, não me permito parar de olhar através da janelinha. Como uma mosca tentando se adaptar a um universo especialmente divino, de que ela parece não fazer parte. Penso que é tão maravilhoso poder fazer parte, mesmo que pequena, dessa vastidão. 


Quando criança, vi alguns objetos estranhos no céu estrelado de uma noite dos namorados. Era um disco voador, creio eu. Ele só me apareceu uma vez e me deixou a imagem gravada para todo o sempre. Foi rápido como algumas coisas que acontecem na vida, daquelas subitamente marcantes. Também vi estrelas cadentes como dizem no popular. Na verdade, são os meteoros, meteoritos, cometas... mas que pra mim é tudo estrela cadente. A historinha do pedido ainda é válida, pois se hoje eu vejo uma, imediatamente corro pra fazer o meu, por mais que a estrelinha não realize meu desejo - já virou ritual.


Não sei ao certo o que me induz a escrever tudo isso aqui e agora, mas olhando pro céu, percebo que lá continuam meus sonhos de criança a flutuar nos ares limpos enfeitados por coisinhas miúdas e brilhantes. O céu é meu refúgio para pedidos, alegrias, tristezas, reflexões e acima de tudo, é minha utopia. Não consigo passar muito tempo sem me jogar no foguete e me mandar pra o espaço pra admirar as coisas belas que por lá encontro. Aqui na terra às vezes é seco e isso me cheira a rispidez. Lá é melhor, frio, úmido e excitante. Lá tem luz, diversidade, imensidão, harmonia, beleza e o mais lindo dos deuses, como diria Renato: o infinito.


Tudo que nos falta por aqui.


Quero tecer de palavras o céu de fantasias. Quero estrelinhas nas minhas entrelinhas.


"Desculpe estranho, eu voltei mais puro que o céu."


                                                                                              Para ouvir

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