domingo, 30 de outubro de 2011

Alheia

Ensaiando na imaginação beijos de novela, eu me perco nas noites de sábado movimentadas por dentro. Saio na esperança pobre de encontrar alguém bacana como qualquer garota que possua sentimentos. Mas sempre tropeço no que espero e fico à mercê das ruas vazias e sorrisos falsos. Fico querendo algo que me vire a cabeça em menos de vinte e quatro horas e que me roube a razão. Me visto de preto, desenho os lábios com vermelho e sublinho as pálpebras, aquelas que poucos tomam nota. Na verdade, o que está por trás dessa maquiagem é o que realmente tem algo a dizer, mesmo que não esteja ninguém disposto a ouvir. Isso já faz tempo e eu simplesmente deixei de dar importância. As banais conversas e o copo de vinho me fatigam das madrugadas sozinhas e o costume já caiu no meu sangue, que apenas circula, vital. A solidão sempre foi minha companhia, e dentre as lamentações e o conformismo me vem lábios cerrados e indiferentes ao que todos procuram nas esquinas da vida, e até consigo deixar escapulir um sorriso. Não sei se porque cansei de chorar feridas abertas pela diabetes dos sentimentos, mas a real é que ando bem alheia aos caminhos, desistindo de tentar acertá-los insanamente. Simples e calma eu sigo sem parar pra perguntar se estou correta porque o que me dão de referência não serve pra seu ninguém, muito menos pra mim. O que me resta é apenas a vontade silenciosa e paciente que não desespera, apenas amacia minha apatia ao lado punk das coisas sem explicação. Não me sinto perdida, nem equilibrada, mas me sinto no lugar que deveria estar. As línguas compartilhadas me chamam e eu vou sem pensar muito, pois beijos nunca foram contratos de quem nada tem a nos oferecer. Estar disponível para o homicídio de um desejo não significa uma prisão, mas cada vez mais uma liberdade que grita. A velocidade da luz e das emoções fantasiadas de sentimentos acabam por agir na minha existência. Por fim, assisto ao mover do dono do all star e das minhas emoções. Felizmente Deus não dá asa a cobra.


A melhor coisa é prender-se ao coração libertino.
A pior é ele desejar algemas.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Metamorfose

Texto escrito há alguns meses.
Prova fiel de que não sou fiel. Sou mutante.

"Tem um dia que a gente simplesmente cansa de acreditar no destino somente quando este é favorável, cansa de ser realista e pés no chão demais. Como um fogo que consome, todos os rótulos para sentimentos somem nas cinzas e um bom remédio de tempo ajuda a gente a se livrar de ficar na defensiva até na hora de sorrir. É como se o tempo de vida falasse mais alto do que o que se foi aprendido desde a infância. Colocar o paredão da morte que nos espera torna-se incrivelmente útil diante das pequenas coisas da vida. Deixamos de acreditar em nobreza e divindade de sentimentos e passamos a vivê-los mais na íntegra. Porque um abraço, um beijo, um carinho, uma palavra pode abrigar a parte mais mole de todo ser humano, nosso coração, contanto que isso seja com vontade, com verdade. Depois, a gente para de olhar pro inalcançável e de esperar que a felicidade que dorme secularmente lá em cima. A terra chama, o fogo alenta, as paixões humanas consomem. O medo se torna minúsculo diante da imensidão da existência. É pra se jogar mesmo, de cabeça, pois vai doer. E se doer, passa. As atenções mudarão, as estações e as pessoas também. A vida não pode ser clichê, quanto mais os sentimentos. Evitar é a pior forma de sentir. Esperar é o silêncio mais incômodo de se ouvir. Mas viver é a forma mais deliciosa de ver, de tocar, de sorrir."


Now playing

domingo, 23 de outubro de 2011

Foi para ti


Eu continuei aqui, junto a mim, quilômetros de distância de ti. Não pude mais enxergar o velho inferno dormente que me fazia adormecer por cima do teu colo, por horas consecutivas. As palavras eram belas e articuladas pra um nada, um espaço que só eu podia preencher em mim. Porque sempre me ensinam a não me jogar de cara, a deixar de me arranhar em paredes velhas e daí, rememoro os dias cheio de anestesia que você insistentemente me aplicava. Fosse como uma estratégia de agarramento de uma eternidade mentirosa, ou por mera inteligência que me dispunha atualmente. Mas não quero invadir seu hoje, em busca de respostas de ontem. Um ontem solitário que me faz fechar quase completamente os olhos para uma visão mais nítida. Aceitei por fim, que dessa nitidez eu não preciso, até porque meus óculos estão guardados na caixa, e meu coração, na contracaixa.

O mundo é bão Sebastião

Me sinto um bichinho que escapou da mata e foi parar na estrada, onde nada tem a ver, nada cabe a existência, tudo é nonsense. Sim, é assim que me sinto no lugar que me jogaram pra nascer. As pessoas me assustam e o asfalto confirma meu tédio. O coração de pedra, a alma como um arranha-céu, me sinto pequena, inútil. Aquilo a que suspiro toda hora não me alcança, pois o que vejo é tão concreto a ponto de me furar. Os sentimentos verdadeiros caíram por terra e eu me perdi na cidade grande, de pessoas grandes, mas de corações pequenos. Cheias de títulos, cheias de razão, sem amor. Mas quem me manda querer ser grande e ter coração maior ainda? Talvez isso seja uma espécie de deficiência sentimental. Meu amor não tem crédito, e por isso o guardo na bolsa ensaiando pelo momento de poder entregá-lo. Me disseram que isso não é amor, isso é qualquer coisa lá que não se deve dar a ninguém, pois quem há de merecer? E eu insistentemente acredito em seu poder e o deixo envolto pelo quartzo branco que minha mãe me deu, na tentativa frustrante de conservá-lo. Permaneço a driblar as ciladas que a gente grande me faz cair toda hora, e que eu ingenuamente reajo com dor. Que bobagem! Eu sambo também pois nunca é tão tarde para se passar tempo num mundo-casa. Nem tudo pode assim cruel, moça. Aqui também tem alegria enquanto se aprende a conviver com essa gente, mesmo não sendo igual a ela. Porque as coisas boas e puras ainda existem mesmo que tão invisíveis e poucas entre o rachar do asfalto quente de todo dia. O que falta são os praticantes. Será? Sim, já foi. Prefiro pensar assim, a ter que me afogar numa bebida de um bar qualquer e camuflar minha angústia. Resmungar da vida não faz meu gênero, mesmo sendo bombardeada com o viver dos outros - conviver, nada fácil. O que desejo, nunca terei. Então os sentimentos se reúnem e combinam para serem autossuficientes me invadindo numa ciranda, por muito tempo. A força deles é meu motor. 
Mas alguém há de acordar e me surpreender? 
Cuidado, isso não é muito de se esperar, pois o mundo ensina a esperteza, mas não traz a sabedoria. O mundo ensina a mentir, mas não a esconde a verdade. O mundo oferece os cargos, mas não te livra de virar pó. 


O mundo é bão Sebastião¹, mas não ensina a amar.




¹Música de Nando Reis

sábado, 22 de outubro de 2011

Versus


Odeio quem me rouba sorrisos, mas me traz lágrimas. Odeio palavras mentirosas, as quais eu insisto em acreditar. Odeio castelos e historinhas de princesa, quando na realidade quero ser uma. Odeio quem me tira do chão pra não me fazer voar. Sim, odeio mesmo. Odeio quem fala demais e faz pouco. Quem conquista e some. Mas odeio quem fica e não conquista. Odeio explicações para o inexplicável. Odeio estar certa e perder a razão. Odeio quem ocupa meu pensamento, mas não pensa em mim. Odeio o zero na caixa de mensagens, e as milhões de desculpas. Odeio quem começa e não termina. Quem tem vontade e não se permite. Quem sente a liberdade, mas não se liberta. Odeio tudo que prende, mas odeio o soltar demais. Odeio os extremos, prefiro o equilíbrio. Odeio a paixão e também a atração. Odeio o saber e o não saber. Odeio a falta de elo e odeio o fingir deles. Odeio cara bonita e alma suja. Odeio convivência, odeio ausência. Odeio o ser humano, mas preciso dele. Odeio as fantasias, mas vivo delas. Odeio o odiar, mas eu amo tudo. Eu amo odiar quase tudo. Amo o ódio que me traz você. Amo o pensamento que estaciona num ódio bom. Amo ser humana e ser um lixo às vezes. Imprestável, desprezível. Assim como você. Amo o amor dos outros. Odeio o meu. Porque o amor que é meu não é amor. Mas é um ódio misturado ao amor. Esse amor odioso que tenho. Que sangra, que escorre... 

O amor que inventei por você. Mas que não passa de um ódio provisório.

Nada é permanente.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Astro-não-mia

Não sei se pelo meu pai ou pela minha infância recheada de historinhas do firmamento, sempre fui observadora assídua do que via acima de mim: o céu. Lá era onde meus sonhos pousavam e me olhavam brilhando por intermédio das estrelinhas. Eu também acreditei que fosse criar verrugas se apontasse... que bobagem! Toda minha infantilidade está conectada ao espaço sideral e no que nele eu imaginava ser. Criava tanta coisa, que me perdia nas nuvens de imaginação, enquanto meu pai insistia em me explicar o escorpião formado pelas estrelinhas e o cinturão de Órion. Sem fala nas três marias, do vermelho de Mercúrio e na pequenez de Plutão.


Tive o imenso regozijo de observar de um telescópio os anéis de Saturno e as crateras da nossa amiga Lua. Não para o que escolhi pra seguir profissionalmente, mas dentro de mim sei que tem um pouco de astronomia. Minha relação com os planetas que eu teimava em enxergar sempre foi de real cumplicidade. Hoje em dia, poucas vezes me transporto pra o imenso universo estelar. Esses dias mesmo parei, sentei e fiquei abismada assistindo ao espetáculo da presenteada noite - mas que meus dias deram pra embaçar - imaginando que cada coisinha que brilhava era como uma pessoa, mortais com cara de infinitas. E pra quem não sabe, as estrelas e o sol (como a maior delas) também morrem. Desejei ainda querer ir pra lá quando partisse de vez, pois assim poderia observar a todos aqui embaixo e esperar àqueles que amo, cintilando para dizer da tamanha saudade. 


Talvez genético, mas meu irmão também gosta do céu. Ele quer voar, ser piloto, mas poucos acreditam que um dia será. Infelizmente há pessoas que não acreditam nas estrelas; preferem os terrestres que se afundam na terra. E eu ainda opto por caminhar olhando pra cima. Falando assim, me recordo o quão é revitalizante viajar de avião, pois sentindo-me mais perto daquilo que o homem não põe as mãos, não me permito parar de olhar através da janelinha. Como uma mosca tentando se adaptar a um universo especialmente divino, de que ela parece não fazer parte. Penso que é tão maravilhoso poder fazer parte, mesmo que pequena, dessa vastidão. 


Quando criança, vi alguns objetos estranhos no céu estrelado de uma noite dos namorados. Era um disco voador, creio eu. Ele só me apareceu uma vez e me deixou a imagem gravada para todo o sempre. Foi rápido como algumas coisas que acontecem na vida, daquelas subitamente marcantes. Também vi estrelas cadentes como dizem no popular. Na verdade, são os meteoros, meteoritos, cometas... mas que pra mim é tudo estrela cadente. A historinha do pedido ainda é válida, pois se hoje eu vejo uma, imediatamente corro pra fazer o meu, por mais que a estrelinha não realize meu desejo - já virou ritual.


Não sei ao certo o que me induz a escrever tudo isso aqui e agora, mas olhando pro céu, percebo que lá continuam meus sonhos de criança a flutuar nos ares limpos enfeitados por coisinhas miúdas e brilhantes. O céu é meu refúgio para pedidos, alegrias, tristezas, reflexões e acima de tudo, é minha utopia. Não consigo passar muito tempo sem me jogar no foguete e me mandar pra o espaço pra admirar as coisas belas que por lá encontro. Aqui na terra às vezes é seco e isso me cheira a rispidez. Lá é melhor, frio, úmido e excitante. Lá tem luz, diversidade, imensidão, harmonia, beleza e o mais lindo dos deuses, como diria Renato: o infinito.


Tudo que nos falta por aqui.


Quero tecer de palavras o céu de fantasias. Quero estrelinhas nas minhas entrelinhas.


"Desculpe estranho, eu voltei mais puro que o céu."


                                                                                              Para ouvir

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Desejo

Chega um momento que aquela coisa de que tudo tem sua hora começa a parecer mais perto, mais palpável. Hora em que as coisas começam a fazer sentido e o que dizem não soa tão provérbio. É aí que o coração palpita e a alma entende. As sintonias resolvem andar de mãos dadas e as coincidências (ou não) aproveitam pra chover no seu quintal. Às vezes vem como temporal e te cercam em casa somente para assisti-lo. Os gostos decidem por se encontrar na pracinha e se beijarem como apaixonados loucos. Como em um começo que sempre é bem-vindo. Bem entendido como uma fração de tempo eterna. Como uma primavera: provisória, mas que se prolonga com um olhar, um toque, uma vontade gritante. Sim... é aí que a boca treme e a mão gela porque o sangue corre pra outras esquinas para esperar a hora de entrar com tudo. O corpo fala alto, as palavras ficam mudas. O momento merece asteriscos de cintilações. O arrepio é um aviso sussurrante. Quente, frio. Bom como a estação. Uma pena é durar pouco. Avassalador e dominante.


Ainda assim, te dou a vez....


Desejo sem governo.

Outubro


Outubro chegou e com ele, meu aniversário que se aproxima. Apenas um lembrete na porta, um despertador para avisar que o tempo está passando, e eu morrendo. Eu me levanto, esfrego os olho em busca de uma nova luz que me guie paz. De alguma forma, me vem a lista enorme de coisas a fazer do ano velho pra cá, e recordo que nem metade destas eu realizei. Mas os planos estão lá, no papel. Não tenho visto mais quem eu queria, nem terminei as aulas de violão, não iniciei a dança, não entrei na academia, nem muito menos aprendi francês. Li menos livros do que eu gostaria (até aqui), não me distanciei do que me fez mal, fui de encontro aos meus valores, dei valores desmerecidos, fui besta, sofri sem necessidade. Mas fiz mais planos ainda, sorri demais, me arrependi e consegui rir das desgraças, perdas. Comecei a trabalhar, encarei alguns medos, fiquei mais mulher. Tudo meio que involuntário, como se a vida resolvesse me dizer vários sins de uma vez, apesar dos pesares. Acho que fiquei mais independente, apesar de sempre tropeçar sozinha no ônibus. Meus dias me vestiram e me encheram de vida. Saí menos, entendi mais as pessoas e seus problemas. Ouvi bem mais os outros, e com a minha boca usei cadeados. Até aqui, vida amorosa pouca agitada, mas dias tão bonitos. Felizes, claros e cheios de esperanças que me embalam. Pra algo que me espera, pra um abrir de portas que me mantém intacta e com um sorriso nos lábios. Fortaleci laços também, descobri irmãos, quebrei a cara, mas perdoei pra caramba. Engoli muito seco quando o que eu mais queria era mandar toda a sociedade ir se fuder. Eu me descobri, e até agora não consegui me definir. Nem quero. Gosto desse enigma de ser, de viver, de conviver. Pra mim, não há algo mais fantástico e desafiador... Reviro fotos e elas riem da minha cara arcaica, que desmonta castelos invisíveis. Não tenho culpa por ser memorialista, saudosista, romântica mesmo parecendo uma pedra. Vivo errando também, odeio a ânsia de pessoas que só querem ter razão e que se escondem atrás de suas fraquezas. Eu gosto de quem se despe e de quem se joga mesmo. Odeio os politicamente corretos, apesar de ter que aturá-los - não quero parecer ser. Tenho odiado quem acredita em milagres sem mover uma palha. Os que usam viseiras e vivem de mãos atadas. Pois mais um mês do ano está indo, o outro chegará logo mais. Se você não muda, nada mais mudará. Data nova, inédita, mas dias que simplesmente continuam. Tento me juntar a eles e corro pra não perder o trem. Arrisco mais e desisto de ter que arranjar um motivo novo para reclamar da vida velha. Acho isso tão sinônimo de comodismo...


Incômodo.

Talvez porque o mais difícil seja se renovar, sendo exatamente o mesmo.


Go ahead...

domingo, 2 de outubro de 2011

Pensar para viver


Eu gosto e sempre paro pra pensar no mistério da vida. Às vezes pareço boba, ingênua, idealista. Ao mesmo tempo pareço ferrenha, realista, pés sobre o chão demais. Mas pensar nela já faz parte do minha coleção de incógnitas. Vez em quando, acordo amando o canto dos passarinhos que abrem meu dia, me abobalho olhando pro céu, encho o olho de lágrimas ao ver o sol se pôr e ao nascer também (isso parece tolo, mas é verdade). Me pego sentindo a brisa e fechando os olhos, reparo numa folha caindo no caminho da faculdade, em um animalzinho que passa por mim. Sou fascinada pela natureza, tenho paixão por tudo que vem dela. Nessas pequenas coisas, vejo o quanto a vida é bela, é importante, misteriosa e boa. Não acho que seja curta num sentido vago como dizem por aí. Depende de como você aproveita ou não seu tempo. Sendo bem vivida, poderá até ser curta, mas bem aproveitada o será também. Se muito longa, pode ser exaustiva. Tudo está de acordo com o referencial e a maneira como se encara esse presente.


De repente, me flagro triste pensando nessa mesma beleza a qual descrevi. Não sei ao certo o porquê de eu tanto me preocupar e de achar que não vivi tudo que gostaria, mas bate um medo dessa coisa às vezes. Também a acho cruel, e de fato ela é. Arrancar quem nós amamos sem nenhuma explicação sequer é o que mais me intriga. Sem falar nas doenças, na pobreza, na desigualdade, na loucura, na crueldade e suicidas. Temos ene motivos pra temer a esta despida tão dual. Mas como já dizia o Toquinho, a vida sempre tem razão. Só sei que é preciso paixão... E é mesmo. Até o dia de hoje, eu a levo de forma tranquila tentando sempre olhar seu lado colorido, pois se for apenas partir de um ângulo pessimista, provavelmente já me teria me jogado do décimo. Não julgo quem é pessimista, diga-se de passagem. Cada um tem seus motivos, sua história e nisso, ninguém poderá intervir.


A vida deixa marcas e disponibiliza também momentos difíceis. Aceitar isso não dá, pelo menos pra mim. Quem sabe engolir a força. Tenho sempre a impressão de que tudo deveria andar conforme o desejo de todos, e que as coisas vis não deveriam existir simplesmente. Parece que não só eu, mas todo mundo tem um pouco dessa ideia de que coisas ruins são apenas coisas ruins. Falar de aprendizado é meio que inútil pra quem já sofreu abalos sísmicos de existência. Mas ele existe, sabemos.


A vida é meio que o desafio de sempre tirar o coelho da cartola; e não só de tirar, mas de saber tirar. A vida é a coisa misteriosa mais bela e rude que já vi. A coisa mais linda e vulgar. Existe pra quem quer e quem não quer. Pra quem acha que entende e também pra quem não entende. Ela está aí pra quem sabe viver; se é essa mesmo a fórmula de não tirar ninguém de uma obrigação a vir escrever isso.


A vida nada mais é do que uma busca incessante, uma felicidade intercalada - que os otimistas concordem comigo. Para os pessimistas, um tédio intercalado. E para os neutros, um composto de momentos.


Mas uma coisa é certo: no dia que alguém entender a vida, parará de viver. Pois o enigma é o que nos prende no agora, no aqui. As surpresas são o que nos encanta e o que nos desencanta num piscar de olhos. Essa sede por respostas, só faz com que cada vez mais ela venha e mude as perguntas.


Perdas e ganhos são seu segredo. Mistério é seu segundo nome. Viver, seu verbo mais cabível.


Para que vivamos...