domingo, 20 de novembro de 2011

Vento de mudança

É estranho construir castelo e temer o vento que um dia viria a derrubá-lo. O tempo passa e o vento chega, sopra aos ouvidos, assobia forte. Parece não adiantar todas as fantasias, as palavras arquitetadas, a pressa em rever o que estava errado. Nada mal. A gente sempre sai do fundo do poço e salta de novo pra o mundo lá fora. A gente baila conforme a música, dança de mãos dadas com a emoção e mais uma vez, pega o coração com as palmas, ainda no ritmo. Remedia-o e o entrega para o outro adoecê-lo. As xícaras ficam fora do lugar, as melodias desentoam, os lugares soam insanos, as pessoas mais chatas do que parecem, mas isso é temporário. A vontade se transforma em utopia, numa loucura abafada, numa lágrima derramada levemente no travesseiro, aquele que encosta a cabeça de chumbo. Quase nunca esquecemos rápido. No começo é beco sem saída, nublado perdurando dias e dias, cegueira pra felicidade que se guarda. Mas grandiloquência nos fatos é desestimulador demais e somente a fé levanta ombros caídos. A fé como uma corda bamba, não tão mole a ponto de nos fazer cair. Seria possível então controlar desejo faminto no meio da tarde carente? Renunciar a esperança adquirida com suor? Melhor desistir de rumos iguais na espera de resultados diferentes. Porque alguma coisa lá dentro muda, sai da linha, se machuca fino, feito copo espatifado no polegar. Isso tem que ser válido, o sofrimento precisa ter crédito ao menos uma vez. Dormir no tempo, esquecer-se na varanda com o pensamento embargado nas relações frágeis, talvez um canto desafinado - encantador pra quem nada ouve. Encanta a dor? Lágrima fugidia novamente. Sentir o latejar também traz suas resistências, pois depois sempre vem outras vozes graves e nos surpreendem com novos cantos. Des-cantando a dor? E lá vão eles de novo ao encontro, a uma nova batida. O que não vale é lamentação demais, coitadismos sem fim, mas o calar-se, o recolher-se na frente do espelho, o sorriso desgastado porém revitalizante. Sorriso que revela um fiapo de amor invencível, não desistente de sua aparição. Pedacinho sobrado que assobia levemente aos ouvidos do coração desesperado por continuação. Que tal reticenciar? Por fim, abrir a janela do quarto em busca do vento de mudança que acalma o desespero, dá refresco ao fraco. Recomeçar almejante por um final incerto, tentando sair mais forte desse princípio. De passagem, aproveitar pra fugir da posição secundária, assumir-se protagonista, mas jamais menos vulnerável às tragédias que o temor do vento trará. Construir, destruir, reconstruir.
E que venha o próximo.

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