terça-feira, 15 de novembro de 2011

Retiro

summer moved on

Eu devia pegar as malas e partir. Ir à rodoviária ou ao aeroporto. Comprar passagens para um lugar sem nome, explorar a existência, implodir minha crise. Esquecer-me num retiro, ausentar-me da vida aqui. Eu devia ir embora e voltar sorrindo, com alma e cara novas, pra ninguém colocar defeito. Eu devia ir embora sem me despedir . Descarregar as angústias amorosas e reparti-las com desconhecidos, passageiros imaginários. Talvez servissem pra uma crônica qualquer. Eu devia seguir outro rumo, fugir da rotina atordoante, respirar novos ares em busca de uma expiração do ar pesado. Limpar pulmões, mente e coração. Filtrar os pensamentos através de um funil, onde eu não pudesse reutilizá-lo. Simplesmente sumir que nem poeira na estrada, ser o rastro de fumaça amarelada na cara de quem vem atrás. Devia mimetizar a estrela cadente no céu negro, o vulto no corredor escuro, o carro que corre a mais de duzentos por hora na estrada. Sair de fininho de casa, não deixar bilhetes com palavras explicativas para tal desatino, permitindo a louca vontade de fórmulas transcendentes, indecifráveis. Uma espécie de busca do meu interior, só que lá fora. A mil pés de altura, a alguns graus negativos. Quem sabe aproveitar o ensejo e inventar novas fantasias, me afundar em outros amores rasos. Impressionar-me com slogans convidativos, mesmo sendo os mais banais possíveis. Devia mesmo, agir com a epifania dos seres, o gozo dos poucos. Inventar novos lugares pra contemplar o pôr do sol, novas doses para amortecer desilusões, novos cheiros para serem lembrados daqui a uns anos. Dar o tempo do clichê que aqui se tornou, ficar longe das pessoas piegas demais, exigentes demais pro cotidiano cíclico demais. Quando voltasse, viria na mala muitas saudades e uns contos para escrever. 

Talvez até um novo amor.

"O problema é que quero 
muitas coisas simples, 
então pareço exigente." 
Fernanda Young
                           

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