Como não podia ser outra, fui eu mesma. Não criei expectativas, fiz de conta não me apegar, abafei sentimentos e vontades loucas, forjei a cara de apaixonada com maquiagem escura. Saí por aí atrás de uma peneira que tapasse meu sol, um amor que suportasse minha lacuna. Minha necessidade por atenção, minha desistência por migalhas. Fui a procura de um copo quase a derramar num boteco, de um sorriso que formasse pés de galinha, num abraço que durasse mais de dois minutos. Não encontrei. Então sobrevivi e continuei fingindo ser feliz com esse pouco que me resta, com essa enorme falta amortizada pelos conselhos, com esse jeito insensato de estar satisfeita com centavos de amor. Tenho dado muito crédito ao amor inventado e contrariado quem não acredita que nascer e morrer são só o princípio e fim de uma piada de mau gosto. Ao mesmo tempo, é estranho ter paciência e cara pra me submeter a encontros pela metade, beijos rápidos e palavras mentirosas. Acreditar no inacreditável e soprar absurdos pra quem desiste de viver na primeira topada. O que eu defendo em duelo com a minha abstinência de toques. Sendo esta a minha forma de caminhar sem sapatos, invento um meio de desmistificar a ideia do amanhã, e viver esse hoje acreditando no infinito mesmo sabendo que ele não existe. Levar aos trancos e barrancos, com um sorriso meia lua e com o pouco que me é cedido, impedindo que a sobra me alcance. Me sento em frente ao mar e invejo os grãos de areia tão minúsculos, mas que formam vidas intrínsecas, vastidões iluminadas pelo sol que resseca e pela chuva que refresca. Invejo porque assim quereria meu sentimento. Coisa sem nome, pronta, esperando para ser alastrada, descoberta. Sem (a)mar, sem abundância, desvio meu campo visual dos grãos de areia que formam desertos e desprezo a garrafinha improvisada de água para me manter viva. Por pouco tempo. A fonte de ilusão vai acabando e a miragem me acena de longe.
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