terça-feira, 22 de novembro de 2011

O sol nasce pra todos

Às vezes bate sentimento 
de humanidade

Um pedacinho do céu, 
um bicho da sorte inusitado, 
um sorriso sem motivo... 

Uma vontade de esperança, 
de ver uma face incomum,
do transgredir...

Barrando as diferenças, 
afogando a violência,
liberando as ideias...


Para que explique o meu amor,
minha tolerância,
minha paz...


Pela humanidade.

Para que o mundo enxergue
O azul pequenino que enxergo
A esperança verde ativa
O sorriso alastrado que me pego
Ao menos agora 
Às vezes, quem sabe...

Pela humanidade.

domingo, 20 de novembro de 2011

Vento de mudança

É estranho construir castelo e temer o vento que um dia viria a derrubá-lo. O tempo passa e o vento chega, sopra aos ouvidos, assobia forte. Parece não adiantar todas as fantasias, as palavras arquitetadas, a pressa em rever o que estava errado. Nada mal. A gente sempre sai do fundo do poço e salta de novo pra o mundo lá fora. A gente baila conforme a música, dança de mãos dadas com a emoção e mais uma vez, pega o coração com as palmas, ainda no ritmo. Remedia-o e o entrega para o outro adoecê-lo. As xícaras ficam fora do lugar, as melodias desentoam, os lugares soam insanos, as pessoas mais chatas do que parecem, mas isso é temporário. A vontade se transforma em utopia, numa loucura abafada, numa lágrima derramada levemente no travesseiro, aquele que encosta a cabeça de chumbo. Quase nunca esquecemos rápido. No começo é beco sem saída, nublado perdurando dias e dias, cegueira pra felicidade que se guarda. Mas grandiloquência nos fatos é desestimulador demais e somente a fé levanta ombros caídos. A fé como uma corda bamba, não tão mole a ponto de nos fazer cair. Seria possível então controlar desejo faminto no meio da tarde carente? Renunciar a esperança adquirida com suor? Melhor desistir de rumos iguais na espera de resultados diferentes. Porque alguma coisa lá dentro muda, sai da linha, se machuca fino, feito copo espatifado no polegar. Isso tem que ser válido, o sofrimento precisa ter crédito ao menos uma vez. Dormir no tempo, esquecer-se na varanda com o pensamento embargado nas relações frágeis, talvez um canto desafinado - encantador pra quem nada ouve. Encanta a dor? Lágrima fugidia novamente. Sentir o latejar também traz suas resistências, pois depois sempre vem outras vozes graves e nos surpreendem com novos cantos. Des-cantando a dor? E lá vão eles de novo ao encontro, a uma nova batida. O que não vale é lamentação demais, coitadismos sem fim, mas o calar-se, o recolher-se na frente do espelho, o sorriso desgastado porém revitalizante. Sorriso que revela um fiapo de amor invencível, não desistente de sua aparição. Pedacinho sobrado que assobia levemente aos ouvidos do coração desesperado por continuação. Que tal reticenciar? Por fim, abrir a janela do quarto em busca do vento de mudança que acalma o desespero, dá refresco ao fraco. Recomeçar almejante por um final incerto, tentando sair mais forte desse princípio. De passagem, aproveitar pra fugir da posição secundária, assumir-se protagonista, mas jamais menos vulnerável às tragédias que o temor do vento trará. Construir, destruir, reconstruir.
E que venha o próximo.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Retiro

summer moved on

Eu devia pegar as malas e partir. Ir à rodoviária ou ao aeroporto. Comprar passagens para um lugar sem nome, explorar a existência, implodir minha crise. Esquecer-me num retiro, ausentar-me da vida aqui. Eu devia ir embora e voltar sorrindo, com alma e cara novas, pra ninguém colocar defeito. Eu devia ir embora sem me despedir . Descarregar as angústias amorosas e reparti-las com desconhecidos, passageiros imaginários. Talvez servissem pra uma crônica qualquer. Eu devia seguir outro rumo, fugir da rotina atordoante, respirar novos ares em busca de uma expiração do ar pesado. Limpar pulmões, mente e coração. Filtrar os pensamentos através de um funil, onde eu não pudesse reutilizá-lo. Simplesmente sumir que nem poeira na estrada, ser o rastro de fumaça amarelada na cara de quem vem atrás. Devia mimetizar a estrela cadente no céu negro, o vulto no corredor escuro, o carro que corre a mais de duzentos por hora na estrada. Sair de fininho de casa, não deixar bilhetes com palavras explicativas para tal desatino, permitindo a louca vontade de fórmulas transcendentes, indecifráveis. Uma espécie de busca do meu interior, só que lá fora. A mil pés de altura, a alguns graus negativos. Quem sabe aproveitar o ensejo e inventar novas fantasias, me afundar em outros amores rasos. Impressionar-me com slogans convidativos, mesmo sendo os mais banais possíveis. Devia mesmo, agir com a epifania dos seres, o gozo dos poucos. Inventar novos lugares pra contemplar o pôr do sol, novas doses para amortecer desilusões, novos cheiros para serem lembrados daqui a uns anos. Dar o tempo do clichê que aqui se tornou, ficar longe das pessoas piegas demais, exigentes demais pro cotidiano cíclico demais. Quando voltasse, viria na mala muitas saudades e uns contos para escrever. 

Talvez até um novo amor.

"O problema é que quero 
muitas coisas simples, 
então pareço exigente." 
Fernanda Young
                           

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Você traz a lenha

Corri para o quarto e reparei a noite de chuva - as vidraças embaçadas me relembram a infância feliz, com cheiro de terra molhada. Os olhos brilhantes denunciavam o desejo de colocar pra fora todo aquele amor reprimido. Aliás, acho que tenho falado demais nesse enigma pairante sobre a cabeça, pedindo forma, pedindo cor. Percebo então que minhas baforadas formam uma película composta por minúsculas gotas, dentre as quais inocentemente rabisco o nome dele. Aquele inútil, imprestável amor que inventei pra gastar os neurônios, e iniciais desinteressadas no caderno. 
Acendo o cigarro no quarto mesmo, me esparro entre as roupas já amarrotadas pela preguiça cotidiana. Sem mais nem por que, resolvo me arrumar para a imagem devolvida pelo reflexo do espelho. Não faz mal, pensei. Traje desenterrado do fundo da gaveta, estilo pin up: estampa de bolinhas, lenço para o cabelo, batom vermelho. Que tola! Ajusto o vestido ao corpo esbelto e exibido, uma verdadeira diva que me dava ar de saúde. Maquiei a angústia. Fumo mais outro cigarro e paro pra observar o cinzeiro. Brincando com as piolas, faço uma cara ensaiada pra atrair uma suposta atenção, imitando os gestos Marilyn Monroe - sensuais e encharcados de mensagens implícitas. Imaginei que se fossem pra ele, capricharia. Olho no espelho, toco a boca que grita pelo macio do beijo. Mas a outra boca não se faz presente, a não ser dentro do pensamento embrulhado, causador de frios na barriga, extensão do frio lá fora. 
Saio a bailar pela sala ao som de um rádio velho que resta nos fundos. Dança sem par, sensação ímpar. Música antiga, de melodia suave. Suave como minha saudade. Volto a janela do quarto que já não está embaçada, me passando a impressão de ter alguém lá fora, de preto. Imaginei ser o próprio - no fundo eu guardava uma expectativa falsa da chegada repentina, que nem no cinema hollywoodiano. Ninguém além do vigia da rua, fingindo cuidar do escuro enquanto dormia por baixo do cansaço. 
Retirei-me em passos lentos, abri um livro de poemas qualquer. Não achei nada que encaixasse com a linguagem do dono da atitude sádica. Nada que não falasse de histórias com final feliz. A minha não era, pois nem continuação tinha. Mas não havia romances, apenas alguns contos breves. E era assim que minha literatura de cabeceira e da vida estavam.
De súbito, o telefone toca. Alô sem resposta, barulho de vento. Não era número conhecido quando busquei o bina. Talvez um enganado da noite, ou quem sabe ele querendo ouvir minha voz de um lugar inusitado. Apenas ouvir... quanto desfecho para nada! A ilusão se apagara entre a realidade cruel e a latência do sentimento, que dormia há séculos. E dormia pesado. Sentimento que de nobre só tinha o nome. 
De olhos ainda abertos, quase devaneando no sofá, tomei o meu café preto preparado com a lembrança vaga das receitas de minha mãe. Refletindo a porta de vidro da frente, me vi como mulher, amante de mim. Mas amante dele, amante da vontade de amar. Amante do cheiro, do toque, da companhia silenciosa que fala alto. Amante da soma do dois que resulta em um, na cama do quarto, na janela ao observar a rua vazia, no sonho em plena vida real. Amante das palavras sussurradas, do cabelo afastado com jeito, do hálito quente. Amante do que se esvai entre a neblina no céu e o sinuoso desejo de estar. Chuva, nostalgia, abraços sem pudor.
E assim minha noite se acaba. 
Vento gelado que remonta a lembrança da face e a certeza da minha solidão. Sem volta a infância, só me resta a súplica ao único moço no mundo que pode me trazer a lenha. 
Meus olhos míopes imploram sem que ele escute: Aqueça-me, meu bem.


"O teu amor é uma mentira
Que a minha vaidade quer
E o meu, poesia de cego
Você não pode ver 

(...)
Mas ficou tudo fora de lugar
Café sem açúcar, dança sem par
Você podia ao menos me contar
Uma história romântica."

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O que me resta além?


Nem acender, nem apagar a luz. Apenas esperar o dia e a noite chegarem, banhados com minha indiferença. Chegando ao ponto estapafúrdio de não querer mais reivindicar aquilo que não reivindica, de exigir aquilo que não se pode, eu simplesmente sorrio sem graça alguma. Sem mistérios a serem desvendados, sem segredos guardados no coração febril. Apenas nada, o tudo que me resta. Sento-me, calo e espero, quase impaciente, mas lembrando que é assim que as coisas devem ser, ou que são somente pra mim. Lembrar que sempre chega o dia neutro, o dia em que uma reflexão na varanda de casa supre a necessidade imediata mais profunda de amor. Nenhuma dose para aumentar o astral, ninguém para ouvir murmúrios. Apenas silêncio sem choro. Silêncio que pende entre a perturbação e a lembrança vaga da sua voz. Por que tem que ser assim? Sabe-se lá o porquê, só se sabe que é, sem mais, sem pontos-finais. Cair na rotina de uma ferida que não se fecha e anestesiá-la com as outras coisas da vida. O buraco no meio da grandeza da existência, que parece nunca deixar de existir. A não ser por alguns minutos. Efemeridade doentia.







O que mais me resta além das cinzas do tempo?

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Distância amarga


A  distância ajuda e nos faz chegar enxergar o que realmente vale: nossa essência. Quando perto do que acreditamos ser nosso outro Eu, muitas vezes nos tornamos cegos por mero encantamento, ou pior, cegos por não querermos ver. Então a gente corre, se distancia e vê as coisas duras, como elas realmente são. Dói e é ruim, mas é extremamente necessário. Então assim, fiz com você. Dobrei algumas ruas, subi no alto do edifício, localizei sua casa. Avistei carros, barulho de motos e pessoas a caminhar logo abaixo. Mas não vi você. Falsifiquei a realidade por alguns instantes. Era meu modo de fantasiar a rispidez que dá gargalhadas da minha cara boba. Esperei a senhora verdade me puxar com força e me fazer tocar ao chão, mesmo que no alto. Ela veio. Acho que finalmente consegui ver o que não queria, o azedo que acabamos nos tornando. Coração que não palpita mais, a troco de umas sinceridades fora de hora. A troco de um sentimento pela metade, ou quem sabe, da ausência dele. Seria tudo invenção em meio ao passatempo que é a vida ou o enfeite mal arrumado de um pensamento que já divagou? Não sei. Só sei que de longe tudo é meio amargo. Quando perto, é doce. Doce que me enjoa, mas me impede de empurrar o prato e dizer: 


Não quero mais.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Provisório

Como não podia ser outra, fui eu mesma. Não criei expectativas, fiz de conta não me apegar, abafei sentimentos e vontades loucas, forjei a cara de apaixonada com maquiagem escura. Saí por aí atrás de uma peneira que tapasse meu sol, um amor que suportasse minha lacuna. Minha necessidade por atenção, minha desistência por migalhas. Fui a procura de um copo quase a derramar num boteco, de um sorriso que formasse pés de galinha, num abraço que durasse mais de dois minutos. Não encontrei. Então sobrevivi e continuei fingindo ser feliz com esse pouco que me resta, com essa enorme falta amortizada pelos conselhos, com esse jeito insensato de estar satisfeita com centavos de amor. Tenho dado muito crédito ao amor inventado e contrariado quem não acredita que nascer e morrer são só o princípio e fim de uma piada de mau gosto. Ao mesmo tempo, é estranho ter paciência e cara pra me submeter a encontros pela metade, beijos rápidos e palavras mentirosas. Acreditar no inacreditável e soprar absurdos pra quem desiste de viver na primeira topada. O que eu defendo em duelo com a minha abstinência de toques. Sendo esta a minha forma de caminhar sem sapatos, invento um meio de desmistificar a ideia do amanhã, e viver esse hoje acreditando no infinito mesmo sabendo que ele não existe. Levar aos trancos e barrancos, com um sorriso meia lua e com o pouco que me é cedido, impedindo que a sobra me alcance. Me sento em frente ao mar e invejo os grãos de areia tão minúsculos, mas que formam vidas intrínsecas, vastidões iluminadas pelo sol que resseca e pela chuva que refresca. Invejo porque assim quereria meu sentimento. Coisa sem nome, pronta, esperando para ser alastrada, descoberta. Sem (a)mar, sem abundância, desvio meu campo visual dos grãos de areia que formam desertos e desprezo a garrafinha improvisada de água para me manter viva. Por pouco tempo. A fonte de ilusão vai acabando e a miragem me acena de longe.

Quero mais água, mais tempo. Quero mais vida.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Urgência

É muito bonito sair do casulo e aprender a voar. Asas espaçadas, ares novos e cava vez mais vastos. Ser aprendiz simplesmente de tudo que me foi dado, feliz por tudo que me tornei e estou me tornando. Não me arrependo dos fios mal tecidos, dos textos mal escritos, dos amores mal amados. Tudo é parte da construção, ou reconstrução do ser que baila infinitamente. Céu azul e muitas folhas que caem das árvores, demonstrando leveza no toque, sutil chegada ao chão. Aprendi sim com elas e com o amanhecer: renovação, alma limpa, água no rosto, re-vida. Quedas e subidas. Todo dia. Porque é preciso, é urgente, é do que mais somos compostos já dizia Clarice, por urgências. Urgência por amor, por perdão, por plenitude espiritual e equilíbrio emocional. Doce vida que sorri pra quem está triste, mas que precisa ser desvendada a cada pedra interrompida, a cada passo atrapalhado. Vida bela que parece uma piada, mas que passa feito rio, com suas águas turvas e incessantes, não param. Invejemos os rios, as folhas, o amanhecer, as borboletas que aprendem a voar. Sejamos como eles: cheios de vida e incansáveis.


Mais uma dose de vida pra hoje.                         




Para ouvir!

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sweet november

Todos saturam os meses que passam no ciclo corriqueiro dos dias. Jogam em cima deles todas as fantasias, castelos e expectativas, ansiando pra a resolução dos problemas como se fossem fórmulas matemáticas: você me traz as respostas e eu paro de perguntar. No mais, quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas¹. Desistem e se entregam ao novo que chega, perfumando um bem-vindo na porta de casa ao sair, e começando o primeiro dia do mês com o pé direito. Patuás contra todo o mal que possa incidir em menos de trinta dias. Parece que a vida não continua, mas vive pausando para novas demolições do forte construído há pouquíssimas datas. Então novembro chegou e com ele todas as esperanças de um novo amor, um novo emprego, de novos projetos pra o ano que se aproxima. Que tal uma faxina emocional? Pois é. Outubro meio amargo se esvaiu entre as prévias destruídas pelo trator da desilusão e descarregou sobre as cabeças passivas uma nova dose de fé para aquilo que não se põe a mão. Nada além de esperar pelo super poder do tempo, o herói contra os males que nunca chega. Esperar e não fazer. Esperar e quebrar a cara. Mais uma vez. Por que um pacote de dias e não nós mesmos? Até quando iremos nos submeter a uma fração de segundos corridos para mudanças radicais se não for aqui, agora? Não... continuamos a optar pelo castelo de areia que o vento leva sem que nós percebamos e nos afogamos no mar de hoje e sempre. Isso também cansa porque a vida não é cronológica, mas é muito mais emocional, intensa, psicológica do que parece ser. A quantidade de aniversários celebrados não se comparam a maturidade adquirida e os presentes não devem ser entregues somente em datas especiais. A vida é redomoinho, contradição, surpresa. Flores se mandam depois de uma noite maravilhosa, convites se fazem num encontro casual, sorrisos são sempre bem-vindos. Dias não devem ser multiplicados e sim somados, cheios de energia positiva, pois assim a coisa anda melhor. A vida não é somente demarcação temporal e nem poeira para se varrer com alergia. O tempo sem datas é muito mais profundo e delicioso, despido de perseveranças que não se renovam. É muito mais que meras lamentações de um mês que não disse sim ao seu desejo. A vida e o tempo não estacionam, mas continuam. Basta ir vivendo para passar e não, passando para viver.




¹Veríssimo