Essa gatinha se distrai com coisas óbvias, que passam despercebidas aos olhos humanos apressados, e eu bem que desejaria uma distração como a dela: brincar com uma bolinha, rolar no chão se medo de me sujar, chegar mais perto das plantas e tentar conversar com elas - em miauês. Ser mais livre das regras e inocentemente acreditar nas pessoas. Ganhar a confiança de um dono e não se decepcionar se ele não estiver a fim de trebelhar. Queria ser essa gatinha que conhece um pouco de tudo, sobe nos objetos, cai e se levanta numa tamanha facilidade. Queria sim, ser essa gatinha mais independente, que toma leite como se fosse o último de sua vida, e come sua ração como se fosse caviar.
Queria existir em mim mesma, essa criança perdida e emudecida com o tempo, com a carapuça que resolveram me encobrir. Queria voltar a sorrir com um rasgar de papel, queria pintar uma casa com um sol sem me importar em borrar as cores. Queria lamber a tampinha do danone na frente de todo mundo, e abraçar as pessoas com um pulo dado a distância. Porque essas são práticas que somem com o passar do tempo, fazendo-nos esquecer de nos doar com mais calor, com mais confiança, mais inocência, mais tolerância.
Frutos de uma geração descartável, desertamo-nos de nos envolver por um sentimento puro (se é que ele existe), e muitas vezes estamos com alguém por total conveniência, somente em seu tempo útil. Dar valor aos mais desnudados sentimentos? Ah, isso é tão demodê. Todo mundo agora é de todo mundo. Mas eu adoraria saber onde está velha criança que se prevalece num olhar afetuoso; onde se escondeu o adulto que sorri com sinceridade; e em que beco o animalzinho maltrapilho se refugiou.
Morrendo de inveja da gatinha serelepe que sobe no meu colo sem medo de cair, e que tem um instinto de eterna criancisse, eu vos digo: queria ser como ela. Uma criança inabalável.
Com um lado infantil mais vivo que nunca;
E um adulto quase imortal.
Essa é a Lara rsrsrs |
Nenhum comentário:
Postar um comentário