Eu não coube mais nas roupas que antes folgavam em meu corpo. Engordei, emagreci, comi tudo que tinha vontade e não pratiquei exercícios. Li mais o que queria, fiz poesia com minha vida, criei coragem pra falar alto e fazer a arte de ensinar com as mãos de artista inexperiente. Tentei violão, desisti antes de começar a dança e o francês, e concluí o curso de inglês. Optei pelo o português. Eu me surpreendi com meu timbre, com minha paciência em esperar o momento ideal para falar poucas verdades latejantes, apesar de ouvir muitas mentiras feridas. Ouvi meu coração também, baixinho mas pulsante e forte, que me submeteu a gestos loucos e conscientes.
Aprendi a sorrir em momentos inapropriados e a zombar da hipocrisia que insistia em me rodear. Aprendi também a dizer "não" quando preciso, mas ajudei a quem precisava sem ouvir um "sim" para isso. Acho que também fiquei mais independente, apesar de não ter comprado um apartamento nem ter saído de casa, mas por ter dado asas a liberdade que minha mente desejava pra voar alto, além das montanhas, além dos muros palpáveis. Continuei sem seguir o que a moda ditava e a sempre errar nas combinações, que variavam junto com meu humor camaleão. Talvez tenha investido mais na cabeça do que no corpo (gosto de ver meu dinheiro valer a pena, ao invés de sumir a cada estação).
E falando em estação, sofri invernos e tremi de frio quando o que eu mais queria era um cobertor. Fiz de mim minha própria companhia por várias noites sem sono e sem lágrimas. Já meu verão foi só risos, calmaria do mar e revelação: me surpreendeu com um sol chamado amizade, raiou ainda mais a família pequena e que me foi permitida escolher. Nasceram estrias no meu corpo e o efeito sanfona atuou também no emocional. Alguns entraram e saíram de mim deixando marcas, umas mais claras, outras mais escuras. Abri os olhos para as pessoas ao meu redor e consegui ver a alma, segui o pequeno príncipe. Enquanto isso, muitos cegaram para as carapuças alheias de bom caráter (sempre preferi o mau caráter não disfarçado e não é a toa). Senti-me no asteróide B-612.
Conheci a ingenuidade mas também o monstro oculto que acorda de repente, assustando em silêncio. Resmunguei, chorei, me decepcionei com o quase óbvio, me senti criança. Mas pus em prática a maturidade construída, cedendo o perdão e a tolerância. Saí do berço da apatia, da cegueira e do conforto ilusório. Sofri do mal da omissão e dos chás de sumiços sentindo uma dor fina e cortante. Tomei remédios de pseudo-alívio, mas acabei caindo da nuvem mentirosa que me aconchegava lá em cima. Só machucou no começo, hoje em dia já sei como assoprá-las mesmo sabendo que ainda irei me arrebentar e reaprender.
Com tudo isso, fui levada a acreditar que todo mundo tem dois lados: ninguém pode ser totalmente bom ou totalmente mau. Expandi, aceitei e como prova ganhei irmãos, aqueles que enfeitam minhas fotos e tem pacto com meus gostos, sintonias sem explicação. E como as melhores coisas da vida, não necessitam de explicação. Já outros sumiram no meio da viagem: eram só passageiros. Dei adeus. Aprendi a sumir quando não havia mais saída, e a entrar no mundo das pessoas a fim de ser inteira e amiga. Abominei metades e exigi atenção. Nunca pude fugir da intensidade que me vive, lá dentro, bem mais forte do que eu.
Acho que falei mais o que sentia e discuti com os que se achavam politicamente corretos em tudo. Aprendi a odiar e desconfiar de quem agrada a todos e tive bom motivos pra isso. Desmistifiquei supostas verdades, mas sonhei bem mais. Nunca fui a favor dos cem por cento racionais, pois onde estaria a graça da vida se não nos sonhos? Enfrentei gente que queria derrubar os meus e debochar da minha caminhada em busca deles. Desconsiderei, afinal não há troco mais ousado do que a indiferença. Infelizmente ser você mesmo gera guerra em uma sociedade que adora fazer sentido.
Fui também racional quando o momento pedia, mas não fui quando a questão era unir dois corpos. Eu me apaixonei desesperadamente, tremi pernas e gaguejei. Aprendi a ler gestos e usei minhas armas. Não todas. Acho que fui importante em algum momento e roubei alguns pensamentos com minha imagem. Eu quase me entreguei, quase caí feio, se não fosse algo indefinido (uns nomeiam de "destino", outros de "coincidência"), no meu mundo onde tudo tem que dar certo, que impedisse. Olhei pra uma boca, ele me sorriu com um olhar. Eu me encantei, depois desencantei, cantei e reencantei. Gostei de ter vivido cada amor platônico, cada paixão desenfreada, cada paquera não correspondida. Gostei mais ainda de ter me deixado quatro pneus caidinhos por mim mesma, ter visto o amor-próprio transbordar.
E de verdade, o melhor de tudo foi ter acordado sempre com pensamentos matinais desapaixonados, e morrer de amor no final do dia. Foi sorrir com minhas quedas e a chorar com minhas graças alcançadas. Foi ter vontade de continuar sempre depois das topadas e ter me conhecido um pouco melhor, na velha luta infindável do auto-descobrimento. Foi ter subido mais um degrau da longa escada que habita esse mundo, cheio de dores e amores. Foi ter dois dias para que o ano se acabe, e conseguir dizer satisfeita: O fechamento desse ciclo está permitido. Bem-vindo 2012!
Aprendi a sorrir em momentos inapropriados e a zombar da hipocrisia que insistia em me rodear. Aprendi também a dizer "não" quando preciso, mas ajudei a quem precisava sem ouvir um "sim" para isso. Acho que também fiquei mais independente, apesar de não ter comprado um apartamento nem ter saído de casa, mas por ter dado asas a liberdade que minha mente desejava pra voar alto, além das montanhas, além dos muros palpáveis. Continuei sem seguir o que a moda ditava e a sempre errar nas combinações, que variavam junto com meu humor camaleão. Talvez tenha investido mais na cabeça do que no corpo (gosto de ver meu dinheiro valer a pena, ao invés de sumir a cada estação).
E falando em estação, sofri invernos e tremi de frio quando o que eu mais queria era um cobertor. Fiz de mim minha própria companhia por várias noites sem sono e sem lágrimas. Já meu verão foi só risos, calmaria do mar e revelação: me surpreendeu com um sol chamado amizade, raiou ainda mais a família pequena e que me foi permitida escolher. Nasceram estrias no meu corpo e o efeito sanfona atuou também no emocional. Alguns entraram e saíram de mim deixando marcas, umas mais claras, outras mais escuras. Abri os olhos para as pessoas ao meu redor e consegui ver a alma, segui o pequeno príncipe. Enquanto isso, muitos cegaram para as carapuças alheias de bom caráter (sempre preferi o mau caráter não disfarçado e não é a toa). Senti-me no asteróide B-612.
Conheci a ingenuidade mas também o monstro oculto que acorda de repente, assustando em silêncio. Resmunguei, chorei, me decepcionei com o quase óbvio, me senti criança. Mas pus em prática a maturidade construída, cedendo o perdão e a tolerância. Saí do berço da apatia, da cegueira e do conforto ilusório. Sofri do mal da omissão e dos chás de sumiços sentindo uma dor fina e cortante. Tomei remédios de pseudo-alívio, mas acabei caindo da nuvem mentirosa que me aconchegava lá em cima. Só machucou no começo, hoje em dia já sei como assoprá-las mesmo sabendo que ainda irei me arrebentar e reaprender.
Com tudo isso, fui levada a acreditar que todo mundo tem dois lados: ninguém pode ser totalmente bom ou totalmente mau. Expandi, aceitei e como prova ganhei irmãos, aqueles que enfeitam minhas fotos e tem pacto com meus gostos, sintonias sem explicação. E como as melhores coisas da vida, não necessitam de explicação. Já outros sumiram no meio da viagem: eram só passageiros. Dei adeus. Aprendi a sumir quando não havia mais saída, e a entrar no mundo das pessoas a fim de ser inteira e amiga. Abominei metades e exigi atenção. Nunca pude fugir da intensidade que me vive, lá dentro, bem mais forte do que eu.
Acho que falei mais o que sentia e discuti com os que se achavam politicamente corretos em tudo. Aprendi a odiar e desconfiar de quem agrada a todos e tive bom motivos pra isso. Desmistifiquei supostas verdades, mas sonhei bem mais. Nunca fui a favor dos cem por cento racionais, pois onde estaria a graça da vida se não nos sonhos? Enfrentei gente que queria derrubar os meus e debochar da minha caminhada em busca deles. Desconsiderei, afinal não há troco mais ousado do que a indiferença. Infelizmente ser você mesmo gera guerra em uma sociedade que adora fazer sentido.
Fui também racional quando o momento pedia, mas não fui quando a questão era unir dois corpos. Eu me apaixonei desesperadamente, tremi pernas e gaguejei. Aprendi a ler gestos e usei minhas armas. Não todas. Acho que fui importante em algum momento e roubei alguns pensamentos com minha imagem. Eu quase me entreguei, quase caí feio, se não fosse algo indefinido (uns nomeiam de "destino", outros de "coincidência"), no meu mundo onde tudo tem que dar certo, que impedisse. Olhei pra uma boca, ele me sorriu com um olhar. Eu me encantei, depois desencantei, cantei e reencantei. Gostei de ter vivido cada amor platônico, cada paixão desenfreada, cada paquera não correspondida. Gostei mais ainda de ter me deixado quatro pneus caidinhos por mim mesma, ter visto o amor-próprio transbordar.
E de verdade, o melhor de tudo foi ter acordado sempre com pensamentos matinais desapaixonados, e morrer de amor no final do dia. Foi sorrir com minhas quedas e a chorar com minhas graças alcançadas. Foi ter vontade de continuar sempre depois das topadas e ter me conhecido um pouco melhor, na velha luta infindável do auto-descobrimento. Foi ter subido mais um degrau da longa escada que habita esse mundo, cheio de dores e amores. Foi ter dois dias para que o ano se acabe, e conseguir dizer satisfeita: O fechamento desse ciclo está permitido. Bem-vindo 2012!
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