Desconfiei de mim. Passei a não acreditar no que minha boca fala, mas no que meu coração cala. Silêncios cheios de respostas. Sou total desentendida, confusa, contraditória assumida, e por isso não confio no que solto pro vento levar: palavras. Meu silêncio vale muito mais tardes amenas e noites tranquilas. Meu vocabulário é perturbador, me tira a paciência, não é meu amigo. A ausência de sons quando resolve se instalar em mim, já age com classe, com elegância e sopra baixinho no meu ouvido a brisa dos poucos e sábios. Então decidi me apegar ao vácuo de ilusões lexicais.
Há algum tempo, eu vinha relutando contra a indiferença, a injustiça, as frases pseudo-alegres. Não tinha tanta recompensa quando jogava a mesma carta, falava a mesma língua. Como dois cegos tentando enxergar o caminho, como dois países em guerra tentando acordo. Resolvi optar pelo recolher-me, o calar-me que parece infinito dentro de tempo curto, principalmente com o reforço do silêncio da noite escuro de estrelas quase invisíveis, e o dia sem uma nuvem sequer. Mas acredite, aprende-se bastante com o espaço grande-vazio.
Vazio nem sempre é sinônimo de coisa fria, seca, cruel ou conformista. Vazio quer dizer reflexão, pelo menos nos momentos em que os desejos de explodir estão falando alto, o sangue tá fervendo e as multidões estão num caos. Parece um adoecer, mas não é. É vital, necessário e método seguro. Nada a ganhar mas nada a perder. Eu fiz o teste, acho que me superei. Porque sempre chega o momento que a vida cobra e traz a recompensa dos pés que se aquietam, das mãos que se descruzam, dos textos escritos para descarregar essas palavras transfiguradas por momentos abafados do silêncio do outro. Vale a pena.
É quase uma comunicação telepática que se consuma com a verdade. E que ela seja dita através das entrelinhas do assobio - prolongação do silêncio fino e frágil -, que seja gritada com a voz rouca do coração, mas jamais colocada pra fora com a boca errônea e borrada. Dar espaço ao dicionário não compromete as emoções cheias de erros de grafia. E acredito firmemente na justiça do universo. Universo que conspira a favor de todo um silêncio absoluto que diga alto o que não quer, mas que não escandalize a ponto de ferir como as palavrinhas - ou quem sabe palavrões.
Se o outro não der a mínima pro meu silêncio, não me importo. Fecho a porta, apago a luz. Pois quem não se importa com o silêncio atual, tampouco merece as palavras futuras, tão bem caprichadas ao longo dos anos com leituras complementares - poemas infindáveis e encarnados. Pedaços de histórias felizes não merecem tragédias a todo enredo diferente. Então guardo a eloquência, os neologismos e língua dos anjos (ou do amor?) para o mais sutil momento de merecimento, de ouvidos atentos, pupilas dilatadas. Tem que saber dosar a baixeza da vontade e a grandeza da verdade.
Boca falante, coração calado. Continuo com a segunda.
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