Se antes eu reclamava do tempo e do lugar, hoje os tenho nas mãos transbordando. Minha válvulas de escape enferrujaram, minhas queixas não são mais justificáveis. Sobrou espaço, ponteiros e muitos papéis pra escrever, quem sabe planos pra concretizar. Monotonia e descaso com os problemas do mundo lá fora. O mundo em que tenho habitado nada mais é que o meu infinito particular. Tão, tão íntimo que chega a ser fino como o vidro a estraçalhar-se no chão. Com cuidado, agarro-o, deito-me lentamente na cama, procuro um toque seu. Como não tenho o tato, vou na música. Ela finaliza.
A tarde já cai e eu continuo a procurar por pedaços de você nas sombras formadas pela cortina do meu quarto, reflexos do vidro que é meu mundo. Penso então que se não te tenho por completo em tempo real, por que não matar minha sede no sonho, onde tudo pode acontecer? Mais uma tentativa frustrada de chegar perto: lá as coisas também não tem acontecido. O que fazer?
Acordar.
É. Eu preciso acordar, lavar o rosto, arrumar a mala e partir. Em vez de esquecer de levar o que deveria, esquecer o que não deveria ir (mas que vai), mesmo que no pensamento, no bolso, no pedaço de nuvem observado da janela do avião. Dar um passo pra frente, deixando pra trás e principalmente aprender a fazer isso sem lamentações. Amadurecer é processo dolorido mesmo, mas é um título que a vida cobra. Ainda mais sendo mulher, com sentimentos de menina e coração idoso. Às vezes descer do salto e encostar com os pés frios no chão é preciso. Os meus flutuam ainda, mas daqui a pouco alcançam o piso do desembarque. Se antes eu reclamava do tempo e do lugar, hoje os tenho nas mãos transbordando...
Au revoir!
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