Unilateral

Às vezes bate um surto. Desses que os loucos tem em manicômios. Mas eu surto aqui na minha mesmo, grito pra dentro e estaciono a dúvida que me move. Não entendo por que raios toda história de amor tem que ser unilateral e por que uma coisa tão bonita tem que ser tão complicada. Sempre e sempre. Essas perguntas sem respostas me incomodam, dentro do meu cubículo cerebral. Tento ver pelo o outro lado porque há os que não mantém essa relação histérica e injusta que é amar sozinho - em toda regra há exceção. Sinto-me fatigada dessa repetição de historinhas de amor. Sempre um se machuca feio, enquanto o outro sai apenas com alguns arranhões como se tudo funcionasse assim, sempre assim, necessariamente assim. Os dois perdem, mas um perde e sai ganhando; o outro perde e continua perdedor. E porque tentar mudar essa situação pífia é quase dar um tiro no escuro, é uma tentativa em vão. Não, não, não. Parece-me que tenho que engolir essa lei torta para meu coração reto de que a justiça tarda e falha. Ela falha mesmo, e não deixa suspeitos de um crime qualquer. Porque sempre que o outro volta, o outro já tem sentido outros cheiros, e beijado outras bocas melhores e como uma roupa, troca; ou quem sabe, apenas transfere o sentimento, como a gente transfere dinheiro na conta bancária. É tudo tão assim, móvel, súbito e quase sem sentido. Cansei desses chavões de que um sempre sofre mais, e que a distância serve pra se dar conta do sentimento, e que a presença cega, e que é preciso perder para querer ter. Cansei de ter que esperar essa tortura a que todos estão indiferentemente submetidos. Cansei de não ter uma revolução dessa ideia conturbada e sufocante, como as revoluções na história do mundo - morte e mobilização. Matar o desvalor, matar a indiferença e a cegueira. Por que não fazê-la na história do amor? Sinto-me falando pra nada, pra ninguém como se eu quisesse concretizar um conto de fadas infantil. Mas de alguma formal banal, estranha, eu entro de acordo comigo, e continuo arisca. Cada vez mais por eu ter aceito isso, ter vivido isso que tanto rebato.
E sem negar desgraças, afundo-me no copo da hipocrisia.
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