Hoje eu fui na correria, fiz arte, dei aula. Transformei meu tempo em aprendizado e vi olhos atentos, outros nem tanto. Talvez fosse muita pretensão minha querer que todos olhassem hipnotizados para a minha figura que se veste de professora, ali na frente no quadro. Barulhos de sons e carros vindo das enormes janelas, ao lado dos poucos alunos. Não sei de onde tirei magia, poesia, mas por uns instantes me senti feliz e realizada ali, onde os poucos continuavam a prestar atenção em minha leitura labial e minha voz mais pra grossa do que pra fina. Fina só quando monitoro. Mas subitamente, uma agonia, uma vontade de jogar tudo pro alto e sair correndo. Vozes, carros e vento juntos, fazendo barulho e conseguindo superar a luz dos olhos atenciosos, tomando o espaço por baderna. Estresse, falta de fôlego, vontade de renunciar minha paixão, abrir mão do que escolhi. Nessa passagem de duas ondas, uma tranquilizadora e acolhedora e outra forte e destruidora, permaneci na linha tênue. Consegui estabilizar um pouco a situação, e fiquei sem mais nem menos dividida entre ser a professora cansada e o ser humano intimamente feliz. Digo aqui que nem tudo que se desabafa em um blog pode ser drástico demais, ou feliz demais. Agora não, hoje não. Descansei na corda bamba e bipolar que me segurou. Então saí à rua movimentada, tropecei com duas amigas queridas, daquelas antigas que a gente carrega no peito. Daí tomei meu caminho para casa e vim pensando no que seria de mim sem meus altos e baixos, hoje particularmente, tão próximos e suaves. Pensei na continuação apesar de tudo que me acontece e na linha reta que me levaria ao meu conforto. Porque a gente sempre cansa de reclamar de bobagens e aspirar por perfeições sublimes em situações tão curvilíneas. Começamos a perceber que aquela luz no fim de túnel, aquela flor no asfalto podem estar nessa face dupla que é o despertar pra existência. Despertar esse que pode se dar em uma crônica simples ou numa sala de aula desatenta.
Doce dualidade que me carrega.
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