Faz diferença

Há um mal espírito que ronda as ruas, as casas, o mundo: a indiferença. Ela soa no ouvido de quem grita, apodrece na alma de quem despreza, mata a compaixão de quem deveria ter pelo menos isso a dar. A indiferença é o mal de todos os males; é o que te faz passar por um mendigo na rua e não sentir absolutamente nada, além de um nojo desmedido. É o que te faz calar-se quando o outro implora por suas palavras; é o que te faz cada vez mais egoísta. É o que contamina, o que te cerca todo tempo, o tempo todo. Indiferença a um vira-lata; a uma criança de rua; ao motorista que te transporta todo dia; ao amigo que mudou de vida; a faxineira do seu prédio. Indiferença a um "obrigado" e um "bom dia"; ao garçom que te serve; a mãe que te colocou no mundo; ao delicioso um "eu te amo" fora de hora; a um bilhete velho, mas com palavras sinceras. Indiferença aos domingos de sol; ao passarinho que canta na sua janela; ao almoço feito com amor; ao abraço de surpresa; a uma palavra de paz na despedida diária. Indiferença é a ausência do "sim", a viagem do "não" e a permanência do "não vou mudar". É o fone de ouvido que te deixa surdo do barulho do mundo, do movimento, do redemoinho de sentimentos que te mantém vivo. É a camuflagem do está tudo bem e aquela velha história de finge que é verdade e eu finjo que acredito. É os pés abaixo do chão, o petrificado coração. Uma lacuna na vida, um buraco sem fim, uma latência de importância. É a ferrugem no olhar, os sorrisos amarelos, a cara lavada com o que tem de mais sujo. É o ralo da pia, por onde as coisas vão embora despercebidas. Inclusive diamantes que costumam chamar de vidas.
Espero que o olhar para as coisas duras com o coração mole, me retire do patamar da indiferença.
Isso faz a diferença.
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