Eu gosto do que vejo, do que não sinto. Curto mesmo essa minha indiferença ao amor. Às vezes me distraio enquanto ando, procuro por olhares, dou de raspão em corpos que não me percebem. Me sinto leve, louca, solta. Me sinto bem nesse passatempo que é a vida e me ocupo de papéis acadêmicos. Não tenho tanto tempo pra ler livros estilo "Como agarrar seu amor". Devo ser um pouco fria até que me esquentem. Não me liminto a conhecidos e nem tenho medo de quem me aborda. Só acho que não dá pra mim, não é pra mim, não é a hora. Confio no destino, o qual não faço parte. Desconfio de mim e na minha boa amizade com o sexo oposto. Fico na platéia vendo minha vida passar sem medo de perder tempo, apenas assistindo como quem assite um filme comendo pipoca. As dicas de se vestir melhor, cuidar mais da aparência já foram por água a baixo. Se tento subir num salto quinze e me enfeito de pérolas, não me sinto eu. Me sinto a menina-desesperada-para-arrumar-namorado. Não acho que seja assim. Estar bonita é uma questão de amor-próprio e não de pré-requisito de conquista barata. Então me despojo em roupas repetidas e unhas cor de unha. Gosto do natural, do falar natural, do se vestir natural, do ser natural - pode me chamar de selvagem. Meu nome veio do latim "aquela que vem das selvas", então não é de se estranhar muito. Saio por aí cheia de pensamentos, mas vazia de falsas e fatigáveis expectativas. Desfiles de casais e marketing amoroso não são comigo. Já larguei as esquinas do centro e os lugares inusitados para se encontrar meu grande amor. Abri mão de tentar forjar poses para atrair olhares. Ando de cabeça mais baixa, mas com um sorriso mais sincero. Uma roupa mais básica, mas o coração requintado. Não preciso mais de rótulos e fugas de mim mesma para aquilo que se dá pelo cheiro, pela pele, pelo dizer "Eu quero". Eu quero sim. Mas só quero quando a sintonia bater e os santos se entrecruzarem. Não aquilo que me ditam o tempo todo. Uma pena é que poucos saibam a diferença entre dar a mão e acorrentar a alma¹. Não me forcem a amar de mentira.
Porque eu não gosto do que vejo, mas gosto do que sinto.
¹ Shakespeare - Aprender
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Verdade
Pior do que sentir-se cheia do silêncio, é sentir-se vazia das palavras. Palavras atiradas, nunca mais voltadas, se não revoltadas, para perto, para o espaço. Cuidado com elas! advertiu alguém que as arremessou de um abismo chamado verdade.
Mas que a verdade seja dita.
Jamais silenciada.
Mas que a verdade seja dita.
Jamais silenciada.
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
Faz diferença
Espero que o olhar para as coisas duras com o coração mole, me retire do patamar da indiferença.
Isso faz a diferença.
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
Ele
Ele vem naturalmente calmo, recolhido e imprestável para paixões. Bombeia o vermelho, o desejo, e suspira mesmo que silencioso. Eu vivo a conversar com ele por telepatia, nós nos entendemos pefeitamente. Fizemos até um acordo: ele me dá segurança e eu em troca, dou um grande amor - que ainda não tenho.
¹Música "Socorro" de Arnaldo Antunes
Hoje me veio reclamar uma coisa, cheio de razão. Pergutou o porquê de tantos insistirem em sacudi-lo quando não é permitido, e pior, surtirem tal efeito. Eu respondi que talvez seja só uma fase, de insegurança, imobilidade efêmera. Sempre me apoiando numa certeza ingênua.
Daí veio eu, a questioná-lo o motivo dele ser tão cruel comigo, e de não andar mais depressa, pulsar mais forte, derramar sua cor sobre os ares, deixando as coisas mais moles. Mas ele me cobra o que tínhamos combinado. Paciência.
De um tempo pra cá, ele tem parado de funcionar, de responder aos meus estímulos e se finge de morto o tempo todo, querendo me enganar e me deixar constrangida quando os outros perguntam como ele anda. Nem sobre sua função vital e básica, eu me atrevo a responder. Ele não me deu satisfação, também não quero mais saber dele.
Dentro da indiferença, ele já não bate nem apanha¹.
Andei tratando-o como algo que independe do meu corpo, dos meu gritos - uma coisa à parte. E me deparei com o maior de todos as fórmulas: o sentimento involuntário. Sem força, sem fé, sem ferro.
Compreendi que ele tinha vontade própria e que por esse motivo, parou de fazer acordos comigo, me acordei. Além do mais, eu descobri também que segurança e grande amor não são dívidas, mas dádivas. Quem sabe um dia eu as receba de um alguém.
¹Música "Socorro" de Arnaldo Antunes
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
Fim do túnel
Hoje eu fui na correria, fiz arte, dei aula. Transformei meu tempo em aprendizado e vi olhos atentos, outros nem tanto. Talvez fosse muita pretensão minha querer que todos olhassem hipnotizados para a minha figura que se veste de professora, ali na frente no quadro. Barulhos de sons e carros vindo das enormes janelas, ao lado dos poucos alunos. Não sei de onde tirei magia, poesia, mas por uns instantes me senti feliz e realizada ali, onde os poucos continuavam a prestar atenção em minha leitura labial e minha voz mais pra grossa do que pra fina. Fina só quando monitoro. Mas subitamente, uma agonia, uma vontade de jogar tudo pro alto e sair correndo. Vozes, carros e vento juntos, fazendo barulho e conseguindo superar a luz dos olhos atenciosos, tomando o espaço por baderna. Estresse, falta de fôlego, vontade de renunciar minha paixão, abrir mão do que escolhi. Nessa passagem de duas ondas, uma tranquilizadora e acolhedora e outra forte e destruidora, permaneci na linha tênue. Consegui estabilizar um pouco a situação, e fiquei sem mais nem menos dividida entre ser a professora cansada e o ser humano intimamente feliz. Digo aqui que nem tudo que se desabafa em um blog pode ser drástico demais, ou feliz demais. Agora não, hoje não. Descansei na corda bamba e bipolar que me segurou. Então saí à rua movimentada, tropecei com duas amigas queridas, daquelas antigas que a gente carrega no peito. Daí tomei meu caminho para casa e vim pensando no que seria de mim sem meus altos e baixos, hoje particularmente, tão próximos e suaves. Pensei na continuação apesar de tudo que me acontece e na linha reta que me levaria ao meu conforto. Porque a gente sempre cansa de reclamar de bobagens e aspirar por perfeições sublimes em situações tão curvilíneas. Começamos a perceber que aquela luz no fim de túnel, aquela flor no asfalto podem estar nessa face dupla que é o despertar pra existência. Despertar esse que pode se dar em uma crônica simples ou numa sala de aula desatenta.
Doce dualidade que me carrega.
domingo, 4 de setembro de 2011
Unilateral
E sem negar desgraças, afundo-me no copo da hipocrisia.
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