O ritmo do samba antigo me faz sentir saudade do que nunca vivi, reticenciando uma melodia no ouvido que desemboca no lado oculto do meu ser. É arriscado forçar alguma situação, quebrar o elo invisível que se constrói com o pouco que se viveu, apenas para comprovar o que o sonho enfeita nas noites longas. Ouso dizer imoral a tentativa de compreender o caminho ponteado por uma pureza inexplicável do mistério que a gente encontra para enlaçar o óbvio. Porque enigmaticamente a ausência de toques me leva a lugares desconhecidos, me leva a um passo do amor inventado em pleno carnaval, a mil pés da realidade crua. Porque a concretude do mundo sempre abre muitas portas para a abstração que ele abriga pelo não transparecer. Ou não transformar para aparecer? O vazio do ambiente, o choro abafado, o silêncio ensurdecedor, os olhares famintos, as palavras nas entrelinhas, os sentidos lá fora, a fumaça tragada e solta pelo ar do desejo. E é ainda mais misteriosa a ponte que se cria entre o meu pensamento e o fato, tão distantes quanto à insana necessidade de dar gás às tolices esvoaçantes, de alimentar os meus exageros discretos, de enfartar os afetos, remendando (des)pedaços das minhas imaginações bordadas. Pois é mais convincente dizer que tudo tem acontecido nesse silêncio profundo que a gente acaba se afogando, querendo sair vivo e morrendo por não viver. Porque as vontades se concretizam mesmo nessa lacuna que a gente insiste em chamar de pensamento, se alongando em uma forma, num sentido, numa cor, feito arco-íris, digno do encantamento que traz aos olhos de quem o risca com os dedos apontados para o céu, quando lá mesmo ele se desfaz. E talvez seja só isso: o belo que se busca aos tropeços em contraste com a realidade escorregadia. Sensata, mas deixando muito a desejar para a minha mente ritmada pelo samba de raiz, o mesmo que me transporta para um passado jamais experimentado, talvez para as minhas raízes imaginárias.
Silvanna Oliveira
Silvanna Oliveira
INEVITÁVEL
ResponderExcluirHermeticamente decifrável.
Sou um destinatário contemplado,
Ante meu platonismo dilacerado
Nas narrativas de minha musa afável.
O encontro mais que extraordinário,
Arejou a profusão do pensamento...
Redefiniu: toque, cheiro e timbre imaginário;
No entanto o gosto ficou no lamento.
De todos os sentidos, vejo!
Apesar de abstrata - sua áurea -
Alimenta ainda mais o meu desejo.
Eu poderia passar mais algumas horas ou dias pensando no que te responder, pois suas palavras foram cristais para o meu domingo opaco. Um brilho que atravessou o dia nublado. Estendeu-se para todo o resto, trouxe luz, poesia e encanto. Tive medo de que esses cristais se quebrassem por causa da sensibilidade intrínseca e tão maravilhosamente ponteada. Mas admirei a coragem das sensações jorradas com uma minúcia aparente, sede de uma introdução saciada. Sua atitude já me rouba um sorriso frouxo, aqui e agora. E uma coisa é óbvia: suas impressões ficam em mim, cantando em meus ouvidos, ressoando para o bem da imaginação. A alma vibra. Os seus versos estão se cravando mais uma vez no meu coração cheio de anseios. Não sei se apenas agradeço ou se retribuo com uma alegria quase anônima também, quem sabe desconhecida, ou não. A única que tenho, a única que posso sentir depois de tudo. E quer saber... gosto quando um lirismo me toca assim, sem mandar aviso, apenas indícios... é inevitável! Nesse mistério eu mergulho, me afundo sem medo. Suas palavras são águas do mesmo azul que me banham em outro mar, já diria alguma poetisa. Obrigada, obrigada. Beijos poéticos.
ResponderExcluirSil.