Os livros ainda parecem esperar os seus olhos que percorriam as linhas grifadas na leitura matinal. O sofá na sala espia sua volta. Os lugares vazios da cozinha dão espaço à sua ausência pesada, repentina, quase sem jeito, desacostumada. A viagem é demasiada longa para quem a teme daqui, amargamente incerta, mas tão correta a ponto de ferir quem aguarda desde o abraço apertado nos dias festivos; o acerto da previsão de chuva para o dia que pareceria limpo até o fim; as risadas roucas do seu comportamento de mulher guerreira, até o bater de panelas do almoço feito às pressas; as críticas severas rogadas pelo sufoco desesperado do silêncio; a sinceridade borbulhando no bule em suas mãos, engelhadas pelos anos difíceis da década de 40. São estes alguns detalhes que fazem um enorme buraco no cotidiano mal adaptado com a sua partida. Pois é, vovó. Sinto essa falta me assobiando aos ouvidos todos os dias que me levanto e te procuro, mesmo sabendo que a senhora não estará mais em lugar algum nesta casa. É involuntário, afinal, até sabemos como ensinar a vida, sempre evidenciada, lembrada, mas infelizmente não aprendemos sobre a morte por insistência em esquecê-la, ou por medo, quem sabe. No entanto, ainda te procuro porque sei que é nesta busca que encontrarei o lugar certo para a estadia da sua lembrança. Não nos livros, nem na sala, nem na cozinha, porém viva e resplandescente no meu coração, que abomina a ideia do nunca mais. Porque querer a presença física não anulará o seu espírito alegre dos meus gestos diários, nem a espera doce do nosso reencontro em cada memória repartida.
A estrela D'Alva brilha sempre mais forte no meu céu coberto de saudades. Na fria manhã de terça, a estrela que só é visível da superfície da Terra ao amanhecer me inspira. Vovó Lindalva, minha estrela D'Alva.
Lindalva da Silva - in memoriam
15 de janeiro de 2013.
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