terça-feira, 23 de abril de 2013

Entre linhas


Seria fácil camuflar sentimentos ou entremeá-los nas linhas todas entre-meladas de orgulho. Poderia esconder até a última gota meu sentimento tolo, imaturo, pendente na corda que fica prestes a se partir com a desaprovação alheia. Poderia ainda fingir palidez sempre que encontrasse a felicidade que se mostra, o vermelho que brota, o suor que denuncia. Mentindo a carapuça, me desnudando por dentro com a sensualidade da poesia. Nos meus gestos faciais poderia demonstrar indiferença num jeito estático de olhar as coisas vis. Mas eu caminho de mãos dadas com os meus sentidos mais finos, metidos de ousadia, quiçá ilusórios. A sensibilidade que me aguça a vida, adoça essas terminações nervosas que dançam numa festa constante, cheia de serpentinas interiores. Sentir é existir. Poder carregar o mundo nos ombros com a força do coração. Além de forte, é bonito. Soa como melodia, melando o dia de cores. Sentir pode ser meloso demais, sim, escorrendo talvez, mas não menos puro. Entregar-se nos versos do poema avulso que me leem com uma lupa, me decifrando toda, me aumentando em palavras, roubando minha melhor interpretação. Ampliação. O mundo ao contrário. Existir é um fardo sem o mergulho sentimental quando a realidade afoga. As emoções são ingênuas meninas de saias rosa, esperando um vento teimoso a sacudi-las do traço acostumado. Teimosia escorre no verbo cheio de intenções pretéritas. E eu fico nas entrelinhas, perdida entre elas, aguardando uma análise sua.

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