"(...) É preciso sentir saudade para eu te sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te!"
(Presença - Mário Quintana)
Eu sinto saudades, todo mundo sente. De alguém ou de algo. A saudade é a roupa velha do armário novo. É o hoje vestido de ontem. São os olhos que escondem as lágrimas, e as lágrimas que escondem a alma. Sentir saudade não é apenas chorar, mas é também sorrir, lembrando com tristeza o que foi felicidade e fazer dessa mistura, um caldo de consolo. Sorrir alegremente é pra dizer valeu a pena! A saudade é aquilo que abre um vácuo no tempo. Não tem nenhuma forma... só conteúdo. Saudade é fazer uma regressão, enxergar cores e imagens soltas num emaranhado de sentimentos, e quase poder tocá-los. Saudade é se fantasiar de novo, brincando de velho. É viver outra vez, só que desta, em pensamento. É reacender o fogo adormecido, soprando as brasas, querer se queimar de novo. Saudade é o que torna mais bonito o que o que se passou; o que torna as lembranças mais doces, mais bem observadas. É consertar retalhos, reparar detalhes - trabalho com minúcias. Saudade é enxergar com o coração, é dar um valor duplicado, é jogar ouro onde tinha prata. É sorrir pelo lembrado, sem chances de idas, apenas de voltas. É estacionar no tempo, voltar o relógio, sem ser o cronológico. Saudade é andar com um pé pra frente e outro pra trás, em constante movimento. Saudade é coisa de gente, é coisa inata, mania de ser humano. É caminhar pro futuro, estando no presente e sentindo um passado. É a ponte que une dois lugares: o antes e o depois, que é o agora e equilibrar-se sobre ela. O agora é a saudade de amanhã. E o amanhã, a saudade despida do hoje.
Como slogan de uma saudosista: Sentir saudade faz parte.
Como slogan de uma saudosista: Sentir saudade faz parte.
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