- Foi assim que um horóscopo me abordou. Acertou em cheio, coincidência ou não.
Como sempre, aquela velha mania de querer ler palavras condizentes com nossa situação - encontradas na língua dos astros, ou não - desde que consigam traduzir nossas dores mais íntimas ou desejos mais aguçados. Parece não sabermos nos contentar com o que temos e por isso, reivindicamos alguma coisa que venha com pitada de esperança - mesmo que seja ela uma falsa. Porque todos vivemos a suspirar pelos quatro cantos mudanças, horizontes novos e saltos de uma realidade dura pra um Fantástico mundo de Bob.
Daí me pergunto do que realmente precisaríamos pra nos sentirmos completos e felizes como nas propagandas de margarina. Tenho sempre a mesma resposta: do inalcançável. Afinal, o distante sempre é mais bonito, idealizado como os amores na época do Romantismo. Mas quem nunca se decepcionou ao depois de imaginar mil maravilhas de alguém, chegar mais perto e perceber defeitinhos invisíveis na utopia?
Com isso, me pergunto de novo se as coisas existem mesmo, ou se somos apenas vagantes de meras representações. Sim, alguém disse que as coisas que vemos nada mais são do que ideias deturpadas de uma imaginação limitada do ser humano. E o mundo abstrato, também fica no universo do intocável, no ideal platônico? É, às vezes a vida me passa essa impressão de que as coisas serão sempre e fatalmente mais bonitas quando somente enxergadas de longe, digo e repito.
Nos próprios relacionamentos, percebe-se isso. Se estamos com alguém, sentimos apego, mas a dúvida da coisa mais fina do mundo, que Adélia Prado chamou de sentimento - do amor - nos invade de tal forma, que constatamos ou pensamos em confirmá-lo ou refutá-lo depois de chás, vácuos e distâncias somadas a um desprezo do outro em relação à nós - talvez com um pouco de masoquismo, a Psicopatia que explique. Então parece que o amor toma corpo, ou se é que posso chamá-lo assim (posse seria outra possibilidade) quando visto sob as montanhas. O verso curto O amor move montanhas deve aludir hipoteticamente a esse ângulo.
Num apanhado de coisas loucas, defino nosso indefinido ser, a um reduzido pó de idealização-sofrimento. Porque a plenitude e perfeição só existem nas novelas assistidas e nas histórias-de-amor-com-final-feliz lidas com lágrimas nos olhos, os quais gritam com vontade de viver a pureza da coisa, que definitivamente parece não existir. E concordemos que ser gente nem sempre é bonito. Todo mundo tem manias feias, abusivas. Temos necessidades fisiológicas, nos contradizemos o tempo todo, além de sermos puxas-sacos para convivência.
Talvez, outro dia eu esteja escrevendo o contrário. Talvez um dia, eu viva um grande amor dos meus sonhos. O nunca é fatal, dramaticamente mal-usado, pois pouco serve. Não caberá a mim, diga-se de passagem.
Agora, só uma coisa: o que seria de nós sem a utopia?
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