segunda-feira, 9 de julho de 2012

Certo, tempo!

A vida é um relógio com ponteiros invisíveis. E eu sempre tento mergulhar nessas horas de cabeça rasa e alma profunda - tenho dito. O meu coração é mais velho do que o resto do corpo e somente meus lábios rejuvenescem... a cada paixão desenfreada, a cada dose de alegria ingerida com as palavras de felicidade (instantânea), e de desilusão mais instantânea ainda. Enlouqueço e depois vou embora sem dar beijos de despedida, nem endereço para a esperança que quase brota. A volúpia termina onde começa o amor. E eu continuo normal por fora: minhas roupas meio shuffle, meus sábados à noite, meus goles já rotineiros... tudo aparentemente na linha, menos meu desalinho por dentro. Desalinho de acordar apaixonada e dormir com o coração na mão. De ter mãos quentes para aquecer e respostas frias para ouvir. De respirar e não poder dividir o ar. Com um ladrão de sorrisos que me traga flores, que me roube o ar, que me trague amor. É assim que transformo meus alvos afetivos em nuvens que tremem no céu. Se as tateio e as furo, volto sempre de palmas vazias, como quem se doa e se dói, nesta sequência. Aproveito e morro numa ilusão, que pairante sobre essas nuvens, dribla o alguém previsto nas cartas de tarô... fumaça solta e insistente que tem tempo limitado para se esvair! Mesmo sendo eu o tudo feliz, ou o nada vagante daqueles momentos efêmeros com caras de eterno. É, eu também acabo caindo nas ciladas de botequins, tombando na calçada desses amores trôpegos e de quinta categoria que chegam aos montes. Os mais refinados, apesar de demodês para um coração à frente do seu tempo, e de saírem de linha tão rápido quanto os minutos engolidos por uma boa memória e um bom vinho, me enlouquecem mais uma vez. Contradigo-me sempre. Meu coração junto a toda essa fugacidade, continua indo embora súbito feito alguém que beira a velhice esperando a hora de partir, sem concretizar metade dos desejos envelopados pelo tempo. Carregando olhos já cansados de ver tantos absurdos seguidos, tantos passos sem abismos, tantos suicídios em uma só vida. E assim eu me comporto dentro da normalidade cortejada pelos insanos que me topam todo dia na esquina. A dose diária de realidade, a espera do fim dos carnavais. Minha vida talvez seja um relógio atrasado ou adiantado demais. Quem sabe quebrado ou esquecido de despertar para o que chegou e foi embora. Ou para a hora que não chega nunca. Invisíveis ponteiros, será que existe mesmo o tempo certo?

Silvanna Oliveira

ps: Como diria Olavo, meu eu-lírico precisa de terapia rsrsrs

2 comentários:

  1. Não sei se pelo tempo que venho aqui te ler e voce faz o mesmo me lendo que parece que olho pra um espelho cada vez que me deparo com o que tu escreve. Antes fossem só as historias ou a sintaxe da coisa, mas digo os sentimentos, o jeito de ver a vida - e a falta dela. Tento não bobagear meus comentários para deixar a altura do que eu julgo ser tão alto estio como é teu duble de mim, mas quase nunca consigo dizer: que bom que te li hoje, me fez bem.

    E em relação a terapia, todos nossos eu líricos estão desesperados por ela, nossos blogs transbordam isso haha. Beijo grande, Sil. De uma grande admiradora sua, de verdade.

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  2. É engraçado poder ler nas entrelinhas certas coisas que nem mesmo nossa mente ou coração conseguem dizer. É mágico saber que não somos tão sozinhos no mundo, que existem almas soltas e livres por aí, compartilhando nossos mesmos anseios, medos e sonhos. Conquistas, talvez. Mas, os mesmos pormenores presentes no meio-tempo que as antecedem.

    Minha flor, não é novidade a nossa sintonia e irmandade. Falem-me então de um fato novo, que mereça manchete nos jornais ou plantão de urgência na TV. Já é fato consumado minha admiração pelo seu carisma, seus letras e essa brilhante poesia intrínseca em ti!

    Amei de paixão o texto e me vi, em muitas partes, escrita nele. Continue escrevendo e encantando. Sou tua fã. Sempre!

    Fica com Deus! Luz e inspiração.
    Beijos com prosa e poesia. =*

    Com carinho,
    Aninha

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