O coração sempre irá buscar refúgio nos olhos de quem um dia o teve na mão. E não há nada que se possa fazer a não ser respirar fundo e dobrar a esquina em busca do novo que tanto se prometeu. Mas lá estava meu corpo me desobedecendo de novo e cá estou eu a te escrever depois de tanto tempo. A vontade gritando feito bicho preso no quintal, toda a distância tranformada em desejo súbito de uma puritana. Nem sempre os caminhos são precisos e os sinuosos passos são por acaso, e acho que por isso te encontrei. Reencontrei uma pequena morada em mim, que desconhecia até o momento de te abraçar com força. Meio esperto, meio ingênuo. Momento de fingir não estarmos conectados um ao outro. Tudo mentira de quem resiste às reticências de uma história. Na verdade, eu percebi quando sua boca travava para expelir o que seus olhos denunciavam. O som do mar nos confundiu mais uma vez e a voz do tempo cantou. As coisas mudaram mesmo, mas alguma coisa boa permaneceu. O pequeno abrigo onde me encostava ainda estava no mesmo lugar, mesmo que desgastado, mesmo que carapuçado da razão que nos precisa. Fomos pegos em flagrante praticando um crime involuntário, o crime do querer sem fim. E não me importarei depois dessas longas datas, se não beber nos teus olhos de mel mais uma vez. Não tomarei lugar de quem hoje tem assento ocupado, nem farei escândalo para te ter de volta. Apenas deitarei no presente, desembrulhando o passado remoto para que eu não me esqueça do que construímos. Não será tentativa frustrada de quem ainda ama, mas uma dádiva de guardar na memória da vida o que hoje é afeto. Acontecerá de vez em quando, sem promessas e lástimas. Pois é sempre desconcertante rever o grande amor, Chico sabia disso.
"Não sei se eu ainda
Te esqueço de fato
No nosso retrato
Pareço tão linda
(...)
E desconcertante
Rever o grande amor
Meus olhos molhados
Insanos, dezembros
Mas quando me lembro
São anos dourados..."
(Anos dourados - Chico Buarque)
"Não sei se eu ainda
Te esqueço de fato
No nosso retrato
Pareço tão linda
(...)
E desconcertante
Rever o grande amor
Meus olhos molhados
Insanos, dezembros
Mas quando me lembro
São anos dourados..."
oi Silvanna. Encontrei seu blog enquanto tava vendo o de Hugão e fiquei encantada com seu texto. Gostei muito do teu lirismo original e até como você encaixou chico buarque sem parecer clichê. Seu espaço é lindo, parabéns! Estou seguindo, Bia.
ResponderExcluirAdorável,Sil! :) Um texto de uma particularidade doce e gostasa de se ler e pensar. Afinal, a vida prega peças bem parecidas em todos nós. Decifrar sua alma já é difícil, imagine a dos outros?! Sou sua fã. Fica com Deus! Te amo.
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