terça-feira, 13 de agosto de 2013

Desexplicação


"Não estatize meus sentimentos
Pra seu governo,
O meu estado é independente
."
(Renato Russo)



Antes eu queria significar. Dar nome as coisas, desentender um pouco Manoel de Barros. Talvez eu quisesse o subjetivismo lindo de Clarice por meio de uma objetividade leviana. Hoje não tento mais rotular os sentimentos que bailam dentro de mim implorando vez para a desorganização. As sensações sem governo, o trem fora de trilho, o dia amanhecendo quando mais se parece tarde anoitecendo. E tudo vai se confundindo, saindo do terreno do confortável, do bem apresentável aos pais, do bem visto aos olhos da sociedade consumista e simétrica. As performances sentimentais vão se moldando a si próprias, adquirem autonomia dentro da minha teia tecida de amor. A base, o fundamento, aquilo de que uso para me compor. Em versos, em música, em uma pintura que não entendo muito bem. Daí vêm meus livros, me leem, me decifram e me roubam a imagem através de palavras que se orientam para me desorientar. Não ligo mais, nem me importo com aquilo que se quis dizer e não disse. Vejo que cheguei numa fase em que tudo o que mais importa é a profundidade do beijo e não mais a superficialidade do céu que a gente passa tanto tempo almejando. As belezas, os enfeites do romance, os 'eu te amos' soltos, meio que conformados. Tudo isso por água abaixo. Eu cortei relação com essa linearidade de vida. Porque a vida não desenlaça pelas fitas vermelhas e sim pelos nós que insistimos em fazer durante o trajeto. Nós enegrecidos às vezes. A beleza do feio, o amor sujo, "um pano de chão, de linho nobre e pura seda", Renato me entenderia. Pois é, cansei. Resolvo então me entregar às peripécias, aos olhares profundos que calam a boca. Aos abraços inesperados, à tarde de sorvete com palavrões permeando a conversa banal. À companhia para um filme romântico-meloso-idiota, à cachaça que me aguarda ardentemente (aguardente?) na mesinha do quarto no intervalo do filme. Sim, eu a deixei lá, não no bar. Eu só quero chegar mais perto daquilo que não tem rótulo. A bebida, eu, meus sentimentos. Todos sem significados, mas significando demais para mim.

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