Os dias me consomem aos poucos, como a fumaça do cigarro que confunde a poeira solar em fim de tarde, esvaindo para o nada. Meus passos lentos entregaram todo o meu torpor de conquistar um novo alguém, de começar a ter as milhões de emoções, só que partindo do zero. Ouvinte de propostas indecentes e superficiais, me esqueço alheia às mesmas, saltando indolente com destino ao futuro do meu coração elegante e profundo. Não se podia esperar muito de quem já cansou de viver metades de tempo, vestígios de companhias e restos de amor. Sim, precisei mendigar por um mínimo de atenção e até vestir sorrisos fáceis para perceber que estas nunca foram estratégias boas de agarrar alguém para si. Aderir à ilusão de posse eterna e vulgar muito menos. E mesmo reivindicando meus direitos de sentir a dois, mesmo sabendo que o singelo é também robusto, e mesmo tratando de coisas destratantes, eu decidi por segurar a liberdade na mão e ser passiva de outras atenções, guardando um pouco da minha tão ingênua e fosca. Escondi a vidente que adorava prever errado e fechei os olhos para as expectativas cinzas, as quais encobriam minha visão de algo melhor. Acho que caiu bem em mim esse novo colete salva-amor, afinal, meu possível resgate não implica em esperas exaustivas, nem na ausência total de sentimento. Já-não-mais. O amor sempre fez parte de mim, como um membro que se amputado, faria falta e inibiria o movimento mais trivial. Ele é meu braço direito, o combustível que me move no mundo, meu perispírito em carne e osso. Portanto, renunciar das esmolas obtidas com suor amargo, não há de ser tradução da vontade de amar doce, nula, mas sim do desejo de uma história acre, viva. E com essa evasão pra dentro de mim, enxergo o quanto o sentimento mais profundo e vermelho me habita, inexplorado ainda porém belo. Conhecer o lado que gritava calado, implorando vez para desistir dos amores rasos, foi dissipar a calma até então inexistente e ter como resposta, o repouso no silêncio.
Não há recusa do raso que não signifique um início de paz profunda.
ps: título referente à música "Casa pré-fabricada" na composição de Marcelo Camelo.
Não há recusa do raso que não signifique um início de paz profunda.
ps: título referente à música "Casa pré-fabricada" na composição de Marcelo Camelo.
Sil, sinto que cada vez mais você mergulha num mar de lirismos e palavras doces para escrever aqui. Cada linha é um enovelado de poesia que faz a gente não só ler, mas sorrir timidamente, suspirar, sentir de verdade. E eu concordo muito em optar pela intensidade, mesmo que rara de se encontrar, do que a superficialidade dos muitos. Tudo muito lindo. Beijos, Bia.
ResponderExcluir