Hoje sou uma mulher de pouca prosa e muita poesia. E se antes eu precisava de muito pra dizer pouco, hoje o mínimo me preenche e ocupa minha falta de palavras. Palavras para dizer o óbvio, para cantar o exagero, para decifrar o subentendido da minha vida. Minhas vontades todas tecidas pelo desassossego de existir, silenciando para que o outro perceba o vocabulário inteiro... Hoje eu só quero menos espaço para muita verdade, pois chega de mentiras rasgadas, chega de hipérbole para nada. Se for rasgar o verbo que seja pra valer a pena os pretéritos futuramente lembrados, os presentes dados com sinceridade. Arranhar-me com as palavrinhas e machucar alguém com palavrões não faz mais sentido. Adeus a contradição! Porque quero o menos, o singelo, o discreto do dizer. O invisível do parecer. Ao menos hoje, ao menos agora. Antes que a prosa toda volte e a muita poesia vá embora.
(...)
"A poesia surgiu em seu olhar
Na mesma hora em que a lua surge no céu...
Palavras simples
Numa escrita feminina
De um sonho de menina
A uma musa plena que se esconde num véu
Sobre as águas andou
Entre tardes calorosas via as ondas do mar
E sobre cada correnteza, para ela,
A vida se propunha a contemplar
Olhos negros...
De vasta observação
Via além de suas pupilas
O bater de um coração
Verbo tão doce
Que se pode conjugar
Ela conjugou literatura
Fez dela sua cavalgadura
Para os outros encantar
Poesia de sereia
Sob a escrita viva em mel
Leva na face um luzeiro
Para transmitir vida em papel"
Poema dedicado a mim,
da autoria do meu amigo e poeta, Olavo Barreto.